Por Paulo Lannes

 

O novo filme de Andrew Niccol, diretor de longas como “O Preço do Amanhã” (2011), “O Senhor das Armas” (2005) e “Simone” (2002), é uma ficção científica despretensiosa e de técnica refinada. Com um enredo que lembra histórias já contadas na série “Black Mirror”, a obra traz questionamentos sobre a privacidade em um futuro que seus próprios olhos servem de prova contra você. O principal aspecto positivo da produção é trazer à tona a estética noir para um filme de sci-fi. Diversas tomadas trazem sombras alongadas em ambientes desérticos, além de personagens melancólicos e taciturnos, fazendo uma poderosa homenagem a este gênero, que se encontra em baixa.

A técnica permite uma submersão a este novo universo, em que cada olhar permite acesso a uma série de dados que mais parecem atrapalhar do que ajudar. Em um paradoxo, enquanto o espectador aprecia a beleza disponível em cada frame do filme, os personagens são incapazes de aproveitar esse cenário por conta dos textos e das informações disponíveis diante de seus olhares.

 

 

A privacidade como tema central não é nenhuma novidade. Porém, é interessante perceber como é questionada a ideia do olhar enquanto um documento que incrimina: se há um hacker capaz de alterar o que se vê, então o olhar registrado é um documento adulterado. Só que este também é o principal acesso da pessoa à realidade. Assim, ela se torna incapaz de saber o que é mentira e o que é verdade, presa num fosso de interpretações e dúvidas. A realidade, então, pode ser manipulada. Assustador, não?

 

 

Para além disso: nenhuma atuação surpreende, mas todas se encaixam bem na narrativa. Clive Owen vai bem como Sal Friedman, um detetive solitário e arrependido (bastante confortável para o ator, que costuma atuar em papéis parecidos), e Amanda Seyfried é quase inexpressiva, o que sustenta a misteriosa e sensual hacker. Ou seja, não há desafios, mas também não há decepções.

Ao final, o que se percebe é mais um filme muito bonito e pouco expressivo distribuído pela Netflix – vale ressaltar que “Anon” já se encontra disponível no catálogo da plataforma de streaming. Há acertos na técnica e uma bela homenagem ao gênero noir, mas nada acrescenta ao universo da ficção científica, que se encontra em alta atualmente.

 

Pôster

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Ficha Técnica

 

Ano: 2018

Duração: 100 min

Gênero: drama; noir

Direção: Andrew Niccol

Elenco: Clive Owen, Amanda Seyfried, Colm Feore, Sonya Walger

 

Trailer:

 

 

 

Imagens:

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