Por Luciana Ramos

Presente no Festival de Cannes de 2015 para promover “Café Society”, Woody Allen não escapou da curiosidade dos jornalistas acerca do seu novo empreendimento: uma série encomendada para o serviço de streaming Amazon Prime. O diretor não hesitou em descrever a experiência como “um pesadelo” e clamar ter se arrependido amargamente. Ainda que o pessimismo neurótico seja uma importante característica da sua persona pública, no caso de “Crisis in Six Scenes” a colocação mostrou-se – infelizmente – bastante acurada.

Passado nos turbulentos anos 60, a série retrata os conflitos ideológicos entre uma jovem revolucionária e um casal mais velho que a abriga: Lenny (Miley Cyrus), procurada pela polícia, recorre à Kay (Elaine May), antiga amiga da sua família, para esconde-la até que tenha um plano de deixar o país. Sua presença seria extremamente bem-vinda não fosse a relutância de Sidney (Woody Allen) em acolhe-la.

Neurótico e rabugento, ele não sé despreza a percepção social da jovem como morre de medo de ter sua vida prejudicada com a decisão da esposa. Já Kay e Alan (John Magaro), inquilino da casa, por meio das conversas travadas com Lenny, ampliam sua visão de mundo e começam a questionar o conformismo que os guiava até o momento, o que só aumenta o desespero de Sidney.

 

crisis 1

 

 

Concebida como uma comédia ao estilo Allen, em que os diálogos possuem importante peso na construção e posterior demolição dos conflitos, a série falha miseravelmente tanto na tentativa de retratar uma época complexa quanto na de entreter.

O problema principal é o claro desconforto do autor no formato episódico requerido: escrito como um grande filme dividido em seis partes, não possui bom ritmo e falha em conseguir despertar o interesse nos primeiros momentos. A falta de domínio de uma linguagem com necessidades diferentes das inerentes ao cinema torna a trama excessivamente arrastada e repetitiva.

Apenas no quinto episódio o roteiro se permite acolher a fisicalidade dos atores como instrumento mas, nesse ponto, a falta de interesse pelo desfecho já é nítida. A narrativa se torna ainda mais problemática na última “cena” do referido título, quando os pontos desconexos do roteiro são alinhados em um desfecho que não só é confuso na sua execução como enaltece a irrelevância de alguns elementos inseridos na trama.

 

Muito tempo se perde em diálogos extremamente verborrágicos em que cada personagem expõe seu ponto de vista sobre religião, política e problemas sociais. O embate entre Lenny e Sidney, por exemplo, é apenas na base da palavra, com comparações didáticas entre capitalismo e máquinas de waffles.

A continuidade do emprego desse recurso torna a experiência como um todo um tanto professoral e, assim, chata. Ademais, não é possível desgarrar-se da superficialidade do tratamento, que evidencia a dificuldade do diretor em estender o seu material para além dos seus noventa minutos habituais.

Oferecendo pouquíssimos momentos de entretenimento, “Crisis in Six Scenes” é um trabalho que deseja ser esquecido pelo próprio Allen – algo que deveria ser seguido pelo seu público. Muito longe de seus insights sobre modernidade e relacionamentos, a trama da sua primeira série perde-se em um mar de verborragia que a torna incapaz de atingir a profundidade que a época retratada possui.

 

 

Ficha técnica crisis poster


Ano:
 2016

Número de episódios: 6

Nacionalidade: EUA

Gênero: comédia

Elenco principal: Woody Allen, Miley Cyrus, Elaine May

Criador: Woody Allen

 

 

Trailer:

 

 

 

Imagens:

Avaliação do Filme

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