por Lanna Marcondes

 

Sua primeira aparição nos quadrinhos da Marvel ocorreu em setembro de 1963, na quarta edição de The Amazing Spider-Man. No entanto, Jessica Jones só teve sua própria narrativa em novembro de 2001, com o lançamento de Alias, por Brian Michael Bendis e Michael Gaydon.

Até então desconhecida do grande público, a personagem conseguiu uma plataforma ainda maior com a parceria Marvel-Netflix, onde obteve uma temporada de estreia aclamada pelas críticas. Assim, abriram-se as portas do mundo de uma detetive particular alcoólatra, com um passado sombrio e deturpado, problemas de raiva e quase nenhuma relação duradoura. Jessica Jones (Krysten Ritter) é uma anti-heroína cujo maiores super-poderes são sua humanidade e seu talento para investigação, além de claro, a super força e habilidade de pular de grandes alturas.

Dois anos e meio depois, a série retorna em um ótimo momento. Com movimentos como o Time’s Up e #Metoo, o empoderamento feminino contra abuso e desigualdade reverbera na narrativa de Jones, em todas as suas frentes. Uma novidade foi a seleção de somente diretoras mulheres para a nova temporada, algo nunca antes feito em uma série para televisão.

 

Segunda Temporada

 

Não é uma tarefa fácil dar sequência a uma temporada que deixou Jessica Jones nas alturas. A expectativa de superação de algo já grandioso só crescia. Encontrar um antagonista de maior impacto, ao mesmo tempo desenvolver seus personagens e abordar os fantasmas de seus passados, foram alguns dos vários desafios encontrados pelos showrunners. Não é à toa que nessa sequência a Marvel escorregou. A última vez que vimos a personagem foi em sua aparição em “Defensores”, série que junta todos os heróis das séries da Marvel-Netflix em prol de um objetivo em comum. No entanto, apesar das expectativas, ela deixou muito a desejar. Suas interações com Matt Murdock (Charlie Cox), o Demolidor, foram a melhor parte de todos os episódios. Porém, a segunda temporada de sua série solo nem sequer menciona esse arco dramático.

Esta começa com uma Jessica livre de seu pior pesadelo, após ter matado Killgrave (David Tennant), o seu maior adversário. Uma vitória que não é tão celebrada assim. Ao invés de se tornar uma pessoa melhor, ela se afunda ainda mais no vício e na negação. Tenta ignorar uma maior parte da sua vida: o fato de que as pessoas agora a vêem como uma super-heroína. Porém, em nenhum momento a detetive sente orgulho de seus poderes ou os usa em uma jornada altruísta pelo bem maior, algo que se confronta com a moral dos principais super-heróis dos últimos tempos.

O seu passado já foi abordado na primeira temporada, mas seu final deixou em aberto um aspecto ainda mais profundo de sua história. Instigada por sua irmã adotiva, Trish Walker (Rachael Taylor), ela acaba entrando em uma investigação sobre a empresa IGH, responsável pelos experimentos que criaram seus poderes. Essa jornada acaba revelando que as verdades que ela acreditava estavam distorcidas em sua memória. Essa linha narrativa demora para encontrar seu caminho. Até o quinto episódio, temos a parte noir, investigativa, liderada por pistas e pesquisas, guiada por um leitmotiv de uma trilha sonora de suspense e câmeras voyeuristas.

“Jessica Jones” encontra seu ritmo, apesar de faltar a identidade visual que havia marcado a temporada anterior e que faz falta ao carisma da Marvel no Netflix. Conseguimos nos animar a partir do sexto episódio, entrando em uma espiral de loucura junto com a protagonista. O ponto principal é que, ao contrário do antagonista claro e poderoso da temporada anterior, aqui não há um vilão. Não é tudo preto e branco. Os limites entre os dois pólos estão borrados e cinzas. A moral e ética de cada personagem são questionadas a todo tempo: as suas ações e personalidades em constante mudança criam uma flexibilidade na bondade e maldade de cada um.

 

Jessica e Alisa

 

A super-heroína encara um vilão que é a própria mãe (Janet McTeer), com um rosto e DNA alterados e uma personalidade também traumatizada e volátil. Encontrar uma saída entre protegê-la e, ao mesmo tempo, entregá-la à justiça pelos crimes que cometeu é um dos principais dilemas da personagem. Não há certo ou errado aqui. Ela luta entre a razão e a emoção.

Há uma discussão sobre diferentes tipos de vícios e a real motivação por trás de cada um deles. Por exemplo, Trish, melhor amiga e irmã adotiva da protagonista, procura meios de se igualar em poderes à ela. Acaba usando um inalador com elementos químicos perigosos só para ter a mente e força de um super soldado, tudo motivado pelo egoísmo e inveja. Um arco narrativo que decepciona. Ela tenta justificar suas ações com seu desejo de salvar o mundo, algo claramente superficial. Uma das melhores personagens da série, cuja narrativa seria guiada até ela se tornar a Felina, acabou sendo construída de forma pobre e insatisfatória. 

Krysten Ritter traz a detetive à vida com uma atuação tão minuciosa em seus detalhes, que proporciona diversas camadas de identificação com a personagem. Outros nomes de peso são Carrie-Anne Moss, interpretando a advogada Jeri Hogarth, apresentando uma mulher em decadência que retoma sua força e seu lugar no mundo. Eka Darville também impressiona em Malcolm Ducasse, com uma narrativa pessoal que surpreende ao vermos as verdadeiras nuances e possibilidades do novo detetive. Janet McTeer, como Alisa Jones, é tudo e mais do que esperávamos para a mãe de Jessica e de um ser poderoso descontrolado, mesmo não sendo necessariamente uma vilã a ponto de substituir o antagonismo do ex-namorado da protagonista, responsável pelo seu sofrimento na primeira temporada.

Os novos episódios de “Jessica Jones” deixam a desejar, infelizmente algo esperado após uma estreia tão bem sucedida. A Marvel, que começou com grandes sucessos, anda perdendo sua visão em seu conteúdo televisivo. Muito de sua identidade e temática se esvaeceram. A segunda temporada é puramente sustentada por um elenco de talento e as relações entre os personagens. Esperamos que futuros episódios, já afastados do fantasma do icônico Killgrave, sejam melhores.

 

Pôster:

Jessica Jones 2

 

Ficha Técnica

Ano: 2015- (Em Andamento)

Número de Episódios (por temporada): 13

Nacionalidade: EUA

Gênero: ação, crime, drama

Criadora: Melissa Rosenberg

Elenco:  Krysten Ritter, Rachael Taylor, Eka Darville, Carrie-Anne Moss, Janet McTeer, David Tennant

 

Trailer:

 

Imagens:

Avaliação do Filme

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