Por Paulo Lannes

 

Em contraste com a realidade brasileira, o sertão nordestino sempre foi terreno fértil para a arte. E isso pode ser comprovado com o filme “Mãe e Filha”, lançado em 2012 pelo cineasta cearense Petrus Cariry. A obra cinematográfica revela o momento em que uma mulher volta ao sertão nordestino para enterrar seu filho natimorto perto da casa de sua mãe, que vive sozinha numa cidade fantasma.

Mesmo com o tema sendo bastante explorado no país – nos remetendo a obras como o filme “Auto da Compadecida” (2000) de Guel Arraes, o livro “Vidas Secas” de Graciliano Ramos e o “Asa Branca” de Luiz Gonzaga –, Cariry foi capaz de atualizar a narrativa de sertão se inspirando nos trabalhos dos russos Alexandr Sokurov e Andrei Tarkovski.

Ausência é a palavra-chave do filme. Dona de uma bela fotografia, a trama aponta para a falta que preenche a vida no sertão: a mãe convive com os fantasmas dos homens que partiram; a filha também foi embora e, quando voltou, estava infeliz, carregando um neto morto; a casa em que vive é extremamente simples, sofre com a falta de elementos simples para o conforto cotidiano; a única igreja da cidade está em ruínas; não há vizinhos na região.

 

 

Mas essa ausência não se apresenta pelo discurso. Na verdade, quase não há diálogos entre as duas personagens: um precipício intransponível entre elas jamais será superado. Sendo mulheres, foram obrigadas a se calar e a esperarem os outros sozinhas – obrigando-as a aceitar o destino cruel de suas vidas. Daí, a falta é sentida pela narrativa arrastada, que distorce o tempo, deixando-o lento, muito lento. A iluminação também é fraca dentro da casa, com sombras que ampliam a sensação de solidão, e contrastando com a sóbria e nebulosa iluminação no exterior da residência.

A dor da ausência é também representado pelo neto morto, que demora a ser enterrado. Seu pequeno corpo é posto em uma grande rede com mosquiteiro, fazendo com que a acomodação pareça cheia e desocupada ao mesmo tempo – pois o que há dentro dela está vazio de vida. Diante da paisagem árida e arruinada, ocupada por uma vegetação morta e por prédios em frangalhos, o espectador pode perceber que Cariry construiu, a partir de frames, uma verdadeira representação brasileira da natureza morta – tema bastante comum às pinturas tradicionais, fazendo do filme uma bela obra de arte.

 

Pôster

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Ficha Técnica

Ano: 2012

Duração: 80 min

Gênero: nacional, drama

Diretor: Petrus Cariry

Elenco: Zezita Matos, Juliana Carvalho

 

Trailer:

 

 

 

Imagens:

Veja Também:

Justiça em Família

Por Luciana Ramos Concebido como um veículo para o ator Jason Momoa, “Justiça em Família” marca a quinta colaboração entre...

LEIA MAIS

Garçonete

Por Luciana Ramos   Jenna Hunterson (Keri Russell) é jovem, bonita, criativa e possui um senso culinário aguçado, que a...

LEIA MAIS

O Tigre Branco

Por Felipe Galeno   Um empresário indiano (Adarsh Gourav), sob vestes elegantes e diante da iluminação quase neon de seu...

LEIA MAIS