Por Andressa Araújo
Se existe algo que o cineasta Paul Greengrass sabe fazer bem é trazer realismo para seus filmes. Depois de comandar “Voo United 93” e “Capitão Phillips”, ambos baseados em eventos trágicos e reais, chegou a vez do diretor abordar o atentado de 2011, na Noruega. Como uma produção original Netflix, “22 de Julho” retoma os dois ataques de autoria do fundamentalista Anders Behring Breivik, responsável pela morte de quase 80 pessoas, adolescentes em sua maioria.
Embebido de ideais de extrema-direita e contra o multiculturalismo, o terrorista ativou uma bomba no prédio do Governo, matando oito pessoas. Em seguida, partiu em direção a um acampamento na Ilha de Utoya, cujos organizadores possuíam relação direta com o Partido Trabalhista Norueguês, e abriu fogo contra os participantes do evento, levando a óbito mais 68. Essas primeiras cenas são as mais impactantes do longa.
Greengrass, que utilizou suas já conhecidas câmeras trêmulas para compor uma atmosfera quase que documental na produção, aproveitou o episódio para provocar reflexões no público sobre correntes de pensamentos extremistas. Para isso, criou três perspectivas: a das vítimas, representada pelo sobrevivente Viljar Hanssen (Jonas Strand Gravli), que ficou físico e mentalmente debilitado; a do advogado de defesa Geir Lippestad (Jon Øigarden), que recebeu ligações anônimas ameaçando sua família; e, em especial, a do próprio terrorista (Anders Danielsen Lie), que se mostrou irredutível em suas convicções.
Tais contrapontos corroboraram para estruturar o roteiro delicado, que traz a dor das famílias, as críticas a um advogado que aceita defender um terrorista cruel e a do autor dos crimes, cujos depoimentos e até as relações familiares incitam a curiosidade do espectador. O diretor tentou ainda incluir a perspectiva do Governo sobre o episódio, mas isso pouco acrescentou ao desenrolar da trama. A figura do Primeiro-Ministro (Ola G. Furuseth) parecia entrar em cena apenas para sugerir o modo como a justiça norueguesa agiria frente ao caso.
Se o primeiro ato da trama começa com a chacina a inocentes, o último se dá no tribunal, com o julgamento do terrorista, cara a cara com uma das vítimas. Apesar do conjunto da obra – montagem, edição, atuação – ser eficiente, “22 de Julho” se destaca por sua declaração contra a intolerância ideológica, política, social, racial e religiosa. É um discurso que se revela forte e pronto para combater qualquer desalento à humanidade.
Pôster
Ficha Técnica
Ano: 2018
Duração: 143 min
Gênero: Drama, Suspense, Histórico
Direção: Paul Greengrass
Elenco: Thorbjørn Harr, Anders Danielsen Lie, Jon Øigarden
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