Por Luciana Ramos

Em sua empreitada pela diferenciação, a Netflix tem investido pesado na produção de conteúdos originais, com números alavancados ano a ano. Como propulsores destes projetos, atuam dois fatores: a vontade de se firmar no mercado cinematográfico, o que a faz lançar filmes como “Roma”, e as estatísticas de consumo, frutos dos algoritmos. Estas são determinantes para a grande base de produção de séries e longas-metragens e, portanto, são analisados com cuidado.

Resultados positivos da inserção de conteúdos natalinos nos anos anteriores moveu a empresa a desprender recursos altos na criação de filmes temáticos que pudessem atrair perfis de consumo variado. Este movimento possibilitou o lançamento quase simultâneo de produções sobre o Natal para o público infantil (“O Natal de Ângela”), adolescente/adulto jovem (“A Princesa e a Pebleia”), para os fãs de comédia (“Especial de Natal Porta dos Fundos”) e até para toda a família, como é o caso de “Crônicas de Natal”.

Este mescla fragmentos de moldes narrativos comuns a produções que tem como centro essa época do ano para tornar-se mais atrativo a diferentes faixas etárias. Há o uso do sofrimento pessoal como gatilho para mal comportamento, em contraponto aos acontecimentos da Véspera de Natal como ponto de reflexão e redenção; a curiosidade infantil em tentar captar a chegada do Papai Noel, símbolo da pureza e habilidade de crença inerente às crianças e, ao centro, há a figura do Bom Velhinho, neste caso, repaginada, graças a escalação de Kurt Russell para o papel – o que não deixa de ser um fator nostálgico para despertar a atenção dos espectadores mais velhos.

Simpático, bondoso e somente um pouco transgressor – quando lhe convém – a figura mais importante desta época é retratada em uma roupagem mais cool, unindo dotes mágicos, porte físico em forma (o que sucinta muitas piadas sobre a retratação tradicional da figura do Papai Noel, com uma barriga proeminente) e, até, um show de rock, montado de maneira improvisada em uma cela de cadeia.

Estes elementos são unidos pela jornada dos irmãos Pierce. Conforme mostrado na cena inicial, eles foram criados dando muito valor às tradições de final de ano, crendo na existência de um senhor responsável por dar brinquedos de presente às crianças merecedoras. Porém, desde a morte do patriarca, o adolescente Teddy (Judah Lewis) se fechou para o mundo, ignorando as pessoas mais próximas e, pior, cometendo pequenos crimes como forma de aliviar a dor da perda.

Sua irmã, Kate (Darby Camp), tem sofrido com o afastamento dele e com a sobrecarga financeira e emocional que tem afligido sua mãe. Por isso, no dia 24, ela chantageia o irmão para eles passarem a noite esperando Papai Noel. O flagra, porém, é mais confuso que o esperado, e eles acabam quebrando o trenó do Bom Velhinho. Com isso, os presentes – e, pior, o espírito natalino – de todos fica em jogo.

Os três se reúnem para recuperarem os objetos perdidos no caos, o chapéu, o trenó, o saco de presentes e as oito renas, em uma noite permeada por aventuras. Como de se esperar neste tipo de história, não faltam empecilhos na empreitada, balanceados com o bom humor e as pitadas de excitação provenientes das soluções encontradas para cada problema.

O filme engaja-se na função de entreter e o faz muito bem, sem perder de vista a importância da mensagem, da tradução do espírito natalino como fonte de sentimentos nobres, facilmente contagiantes, que guiam as pessoas para um caminho de união.

No centro, há o carisma de Russell, que faz um excelente trabalho no seu papel, elevando o material a cada cena que participa. Destaca-se, ainda, a jovem Darby Camp (“Big Litlle Lies”), que demonstra muito talento com o engajamento e vigor que encarna a sua personagem.

Diante das múltiplas opções da plataforma de streaming, “Crônicas de Natal” se destaca por apelar para toda a família, unindo narrativa bem estruturada, leveza, elementos cômicos e efeitos especiais bem feitos e, como se não bastasse, o charme de Kurt Russell como um improvável – porém competente – Papai Noel.

Ficha Técnica

Ano: 2018

Duração: 105 min

Gênero: Aventura, Comédia, Família

Diretor: Clay Kaytis

Elenco: Oliver Hudson, Kimberly Williams-Paisley, Judah Lewis, Darby Camp, Kurt Russell

Trailer:

Imagens:

Veja Também:

Justiça em Família

Por Luciana Ramos Concebido como um veículo para o ator Jason Momoa, “Justiça em Família” marca a quinta colaboração entre...

LEIA MAIS

Garçonete

Por Luciana Ramos   Jenna Hunterson (Keri Russell) é jovem, bonita, criativa e possui um senso culinário aguçado, que a...

LEIA MAIS

O Tigre Branco

Por Felipe Galeno   Um empresário indiano (Adarsh Gourav), sob vestes elegantes e diante da iluminação quase neon de seu...

LEIA MAIS