Por Luciana Ramos

Tradicionalmente, no final de ano, as famílias cristãs se reúnem para celebrar o nascimento de Jesus. Comida em abundância e clima de confraternização fazem parte dos Natais ao redor do mundo; porém, em alguns casos, o encontro também pode ser fonte de atritos.

Em “Tudo em Família”, este é causado pela chegada de Everett Stone (Dermot Mulroney), que resolve que a data comemorativa é uma ótima oportunidade para apresentar a namorada, Meredith (Sarah Jessica Parker), aos pais e irmãos. Todos, no entanto, são antecipadamente alertados sobre o comportamento da mulher, seus defeitos e manias por Amy (Rachel McAdams), que foi a única a tê-la conhecido em uma viagem à Nova York.

Munidos pela desconfiança, os calorosos Stones se deparam com a apresentação fria de Meredith, excessivamente arrumada e certinha, que destoa daqueles ao seu redor. Ela claramente se esforça para agradar a todos, mas tudo que faz parece errado, deslocado, piorando o clima da casa. A situação escala ao ponto de ela telefonar para sua irmã, Julie (Claire Danes), que prontamente pega um ônibus e chega a tempo da ceia de Natal.

A sua aparição, porém, só coloca mais lenha na fogueira: com personalidades absolutamente distintas, Julie parece causar uma ótima impressão a todos logo de cara, o que leva a sua irmã mais velha se ressentir ainda mais.

O filme caminha nesta chave, escalando o drama familiar, sempre intercalando as passagens com toques de humor, pontuados pelas observações irônicas dos componentes da família diante dos acontecimentos. A diversidade de personalidades é rica, concedendo, assim, maior aprofundamento narrativo. Os Stones, embora empáticos e amorosos entre si, agem de forma mesquinha e fechada, rendendo-se a preconceitos. O mesmo, no entanto, pode ser notado nas atitudes de Meredith, que, mesmo com boa vontade em agradar, é extremamente infeliz e limitada em suas colocações.

Inevitavelmente, sendo este um filme de temática natalina, o embate oferece espaço ao crescimento pessoal de todos, fruto da reflexão e consequente mudança de comportamento. Este, por sua vez, tem profunda relação com a situação de saúde da matriarca, Sybil (Diane Keaton), talvez a pessoa mais crítica e irredutível daquele círculo. Ao agir com bondade, fazendo uma homenagem a ela, Meredith emociona a todos, levando-os a encarar seus julgamentos, o que não deixa de ser a representação perfeita do espírito natalino.

Assim, “Tudo em Família” revela-se mais tocante e aprofundado do que aparenta no primeiro instante, uma grata surpresa dentre o rol de filmes do mesmo tema. É importante salientar que muito do seu sucesso pauta-se na interação dos personagens, o que, por sua vez, revela a química do elenco. Todos presentes em tela entregam-se em seus papéis, conferindo-lhes a individualidade necessária para se destacar dos demais.

Em meio a este talentoso grupo, destacam-se as performances de Diane Keaton, que sabe equilibra pontuações cômicas com doses de vulnerabilidade, Sarah Jessica Parker, que, mesmo caricata em alguns momentos, concede credibilidade à sua personagem, e Rachel McAdams, que interpreta com afinco a pessoa mais falha, e, portanto, a com maior potencial de amadurecimento.

Embora bem estruturado e divertido, o longa se perde um pouco ao final ao se render a reviravoltas desnecessárias, que parecem meio forçadas. O deslize, no entanto, não é capaz de tirar o brilho da mensagem de “Tudo em Família”, que permanece relevante mesmo após mais de dez anos de lançamento.

Ficha Técnica

Ano: 2005

Duração: 103 min

Gênero: Natal, família, comédia, drama

Diretor: Thomas Bezucha

Elenco: Sarah Jessica Parker, Dermot Mulroney, Rachel McAdams, Diane Keaton, Claire Danes, Craig T. Nelson, Luke Wilson

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