Por Márcia Scapaticio
Ter carimbado no pôster o grande prêmio de um festival é um apelo: assistam. É bom. O que nem sempre condiz com a qualidade do filme. Ainda assim, no caso de “A Fita Branca”, vencedor da Palma de Ouro do Festival de Cannes em 2009, a marca soma-se à filmografia de Michael Haneke numa trajetória crescente à época, representada por “Funny Games” (1997), “A Professora de Piano” (2001) e “Caché” (2005).
O que predomina no filme é a tensão e não o suspense. Em preto e branco, Haneke mexe os personagens de acordo com o roteiro sem deixar brecha para que ligações lógicas sejam feitas ou, por que não, nos dá brecha para estabelecer relações entre os personagens e quando achamos que chegamos lá. Opa, não é bem esse o caminho. Ele as desfaz. Na sinopse, um professor narra incidentes violentos que aconteceram num vilarejo no norte da Alemanha. Ninguém é culpado e todos querem respostas para os crimes. Ou somos irremediavelmente culpados – os cinéfilos ainda mais – a medida em que queremos enfatizar o nosso horror com as maldades do mundo.
Este mundinho do qual fazemos parte. As expressões nos rostos dos atores são importantes e delicadamente enquadradas. Como as cenas das paisagens da comunidade na qual vivem os personagens. O modo de filmar de Haneke, neste caso, não confere particularidade aos corpos e rostos ou a paisagem simples onde o filme se desenrola.
As crianças lá estão e são maioria. Mas nem elas são imunes ao meio, à sinergia física e emocional que habita a comunidade alegórica idealizada para Haneke colocar em prática sua descrença cinematográfica na vida isenta de responsabilidade ou cheia de culpa. Tudo que se fala pode ser tomado pelo contrário. Ou. Sempre cabe um ou.
Em “A Fita Branca”, O branco pretendia demonstrar inocência e pureza.
Ficha Técnica
Ano: 2009
Duração: 144 min
Gênero: drama, história, mistério
Direção: Michael Haneke
Elenco: Christian Friedel, Ernst Jacobi, Leonie Benesch
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