Por Melissa Vassalli
Chegou na Netflix “A Ganha-Pão”, filme que concorreu ao Oscar e ao Globo de Ouro de melhor animação em 2018, e que no Brasil foi lançado diretamente pela plataforma de streaming.
O longa conta a história de Parvana, uma jovem de 11 anos que vive no Afeganistão, sob o domínio Talibã. Numa terra que sempre foi motivo de disputa, poucos foram os momentos em que se pôde ter paz. O seu pai havia desfrutado uma infância feliz, e antes da guerra era professor mas, com o governo autoritário, os direitos civis foram caçados, sobretudo os das mulheres, e seus filhos já não têm os mesmos privilégios.
Ele havia ensinado as crianças a ler e a escrever, mas, para o grupo que está no poder, o conhecimento é uma ameaça, e esse é um dos motivos que o levam injustamente à prisão. Parvana precisa trabalhar para ajudar no sustento da família, mas vivendo em uma sociedade que oprime as mulheres de muitas maneiras, até mesmo proibindo que saiam na rua sem uma companhia masculina, a única solução encontrada por ela é se vestir como um menino.
A condição da mulher afegã é um dos principais assuntos do filme, apresentado por diversos ângulos diferentes. O pai da protagonista se arrisca para que a filha seja respeitada, e se nega a arranjar um casamento precoce para ela. Mas ele é exceção. Muitos outros acham normal que meninas se casem com homens mais velhos. Mas, quanto mais as mulheres são privadas de sua liberdade, mais demonstram sua força – a mãe que luta para proteger os filhos, a filha que luta para libertar o pai e a amiga que luta para se libertar de sua própria família são exemplos disso.
“A Ganha-Pão” retrata uma realidade dura e cruel, e diversas cenas trazem à tona momentos de tensão de um país devastado pela guerra e controlado pelo fundamentalismo. Apesar de ser uma animação, a história é contada para adultos. Os mais jovens podem até assistir e se interessar por ela – sua classificação indicativa é de 12 anos – mas é importante saber de antemão que não há terra de fantasia nem mundo mágico neste filme.
Assim, é interessante observar como os traços do desenho contribuem com a narrativa. Os rostos compridos e finos dos personagens denotam o sofrimento imposto a eles. Os cenários ao fundo são estáticos e quase sem profundidade. No geral predominam as cores terrosas, ressaltando a vida árida que eles vivem, tanto no sentido literal como metafórico. Há inclusive o cuidado de trazer para as ilustrações uma camada de areia que se levanta do chão seco.
Contrapondo isso, há algumas breves sequências coloridas e de traços mais lúdicos no filme, que emergem dos pensamentos de Parvana, misturando lendas locais com histórias da sua própria família, e funcionam como um vislumbre de esperança em meio a uma realidade hostil, que só a imaginação pode oferecer – “histórias ficam no coração mesmo quando tudo se foi”, é o ensinamento mais bonito que Parvana recebeu de seu pai.
Pôster
Ficha Técnica
Ano: 2017
Duração: 93 min
Gênero: drama
Diretor: Nora Twomey
Elenco: Saara Chaudry, Laara Sadiq, Ali Badshah, Shaista Latif, Soma Chhaya
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