Por Marina Lordelo

Em clima de contar a história do “Panamá Papers”, Steven Soderbergh estreia direto na Netflix o filme “A Lavanderia” (2019), uma adaptação ao livro “Secrecy World”, de Jake Bernstein. Em uma complexa história desvendada e amplamente revelada pela mídia internacional (e sobretudo estadunidense), a empresa Mossack Fonseca legalmente abria negócios offshore para as mais diversas empresas mundiais (inclusive para a brasileira Odebrecht), revelando-se também uma forma de garantir o sigilo para diversos esquemas de corrupção e lavagem de dinheiro.

Com um elenco poderoso, que conta com Meryl Streep, Antonio Banderas, Gary Oldman, David Schwimmer, James Cromwell, Robert Patrick, Sharon Stone, Jeffrey Wright e tantos outros, a produção aposta em um recorte de histórias diversas que desembocam na Mossack Fonseca. O que os roteiristas não conseguem costurar é uma relação razoável entre os personagens ou narrativas, deixando a cargo do fato/escândalo em si sustentar a obra.

De forma quase que desonesta, a maior atriz contemporânea de Hollywood aparece na trama – com uma promessa de um falso protagonismo que sugere conduzir a história; Ellen Martin, interpretada por Streep, deveria ser esse fio condutor que desvela as camadas ao espectador. Mas ela praticamente funciona como isca de “bilheteria”. Banderas e Oldman  também sofrem de um mal parecido – já abrem a película em um chroma-key que quebra a quarta parede. A dupla de advogados que assina o nome da empresa, também fica sujeita a uma espécie de função didática, são os “explicadores” cinematográficos que remontam os primórdios da origem do cinema. Ainda que a complexidade da história demande algum didatismo, o filme subestima o espectador reiteradas vezes – animação, grafismos dignos de videogame, personagens idosos desentendidos, agentes de seguradora, inúmeros advogados e até jornalistas explicam, explicam e re-explicam a história.

No flerte com a artificialidade do estúdio, a direção de arte acentua as cores complementares e figurinos estereotípicos, criando uma espécie de atemporalidade entre as cidades estadunidenses e o próprio Panamá. Do mesmo modo, um desfoque radial acentuado apenas em uma cena específica leva o formalismo da câmera a um clichê desinteressante, que desperdiça sua potência desde o primeiro segundo de tela. Soderbergh parece abandonar sua inventividade retórica da trilogia dos “11 Homens e Um Segredo” e deixa os diálogos (que mais parecem monólogos) amplamente expositivos, condensados e saturados.

O que mais afeta a execução de “A Lavanderia” é a urgência de contar essa história. A impressão imediata é de algum outro realizador correr para um estúdio com o “Secrecy World” na mão e Soderbergh tentar apressadamente passar na frente. Histórias demais, personagens demais, explicações demais, mas pouco cinema. Uma personagem diz logo no começo do filme “quem tem olhos, sempre vê alguma coisa”, alinhavando que nem todo mundo sabe contar o que viu.   

Ficha Técnica

Ano: 2019

Duração: 95 min

Gênero: comédia, crime

Direção: Steven Soderbergh

Elenco: Meryl Streep, Antonio Banderas, Gary Oldman, David Schwimmer, James Cromwell, Robert Patrick, Sharon Stone, Jeffrey Wright

Avaliação do Filme

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