Originalmente planejado para se chamar “Tudo bom, tudo bem”, “Além do Homem” é o primeiro filme do diretor Willy Biondani. Situado entre um Brasil idílico e uma França racional, a produção conta a história de Alberto (Sérgio Guizé). Após alguns anos morando em Paris, o escritor vem ao Brasil com a missão de investigar o paradeiro de um famoso antropólogo francês e, com o fruto de suas investigações, produzir um livro. Entretanto, ao retornar à sua terra natal, o jovem passa por experiências transcendentais e vive uma inesperada jornada de autoconhecimento.

Distribuído pela Imagem Filmes, o longa surgiu da ideia de Willy em retratar a alegria do povo brasileiro. Após uma série de pesquisas, ele concebeu um país com alma feminina, sem qualquer referência a gêneros, mas sim com uma forte ligação a atitudes generosas e afetivas. Gravado na cidade de Milho Verde, em Minas Gerais, a produção mescla referências que passam pela Semana de Arte Moderna, Tropicália, cultura pop, arte primitiva e indígena. Sempre com um tom muito positivo, o filme teve suas gravações encerradas antes do conturbado cenário político atual. Mesmo assim, a produção resgata a felicidade, sentimento que, segundo o diretor, parece estar perdido nos dias de hoje. O ator Fabrício Boliveira complementa: “É interessante notar que o filme é lançado num período em que nós, enquanto brasileiros, estamos buscando entender quem somos”.

 

 

Tal busca por identidade também acometeu o diretor, que teve algumas dificuldades para escolher o nome da produção. Inicialmente, o filme se chamaria “Tudo bom, tudo bem” em uma referência direta à nossa resiliência. “Se você pergunta a um francês em uma segunda-feira chuvosa se está tudo bem ele vai responder ‘claro que não, olha ao seu redor’. Já no Brasil, você faz a mesma pergunta em qualquer lugar e a resposta é sempre positiva” afirma Willy. Entretanto, ao longo das filmagens o projeto ganhou profundidade e, dessa forma, o nome original não mais se aplicava.

O título definitivo foi ideia de um membro da equipe e vem de um texto de Nietzsche sobre o mito do super-homem. Na teoria do pensador, o homem é uma corda esticada entre o animal e o super-homem, sendo o último um ser que deseja ir além da sua capacidade. Para Biondani, o nome serviu como uma luva, pois representa também o resgate da identidade do personagem principal. Dessa forma, o filme foi rebatizado como “Além do Homem” não só pela profundidade de suas figuras dramáticas, mas também pelo desejo da equipe em ir além.

Esta força de vontade de entregar o melhor pode ser vista no trabalho de preparação dos atores. Com um estilo de direção participativo, o diretor permitiu que o elenco criasse a origem de seus personagens e isso teve consequências diretas com o que vemos em tela. Cada um dos habitantes da vila idílica possui um sotaque diferente, fruto dessa concepção coletiva.  Fabrício Boliveira, que dá vida a Tião, e Sérgio Guizé, que interpreta Alberto, estiveram presentes na coletiva de imprensa e foram questionados sobre seus processos de criação.

Boliveira chamou atenção para o figurino de Tião, que possui mais detalhes do que podemos imaginar à uma primeira vista. Segundo ele, a roupa dourada que o taxista utiliza no início do filme é uma alusão direta ao ouro retirado do Brasil durante o período colonial. Como Alberto vinha de Paris, a cidade-luz, Tião queria mostrar a ele que, à sua maneira, também poderia brilhar. Já Guizé explica que, para viver Alberto, suas decisões tiveram que ser mais emocionais. Em sua visão, a poesia do roteiro foi fundamental para que pudesse encarar com confiança o processo de autoconhecimento do escritor e o vivesse de maneira convincente.

 

 

A viagem entre mundos de Alberto e sua narrativa pessoal possue muitas semelhanças com a história de Biondani. Ambos moraram na França por um período e são extremamente ligados às artes, por exemplo. Quando inquirido quanto de si imprimiu no protagonista, o diretor conta poucos detalhes e foca na jornada autofágica do personagem. Para ele, cada pessoa que o protagonista encontra representa um pouco do Brasil que ainda precisa descobrir dentro de si. Afim de reforçar tal característica, Willy trabalhou a fotografia que, no filme, começa árida e posteriormente se torna verdejante. Essa transição é necessária para representar o mundo duro e seco que o escritor vivia e marcar de forma clara a nova fase de sua vida, que começa com a abundância derivada do feminino criador.

Rimas visuais como estas foram proporcionadas por uma dupla de peso. Para representar um país irreal, o diretor chamou o fotógrafo francês Olivier Cocaul, que possui um olhar neutro e apaixonado pelo Brasil. Ao mesmo tempo, ele precisava de alguém que conseguisse captar as emoções, quase que prevendo a reação dos personagens. Esta proeza seria trabalho para um olhar nacional, assumido pelo diretor Walter Carvalho que trabalhou como operador da segunda unidade de câmera.

Por tudo isso, “Além do Homem” apresenta-se mais como uma experiência sensorial do que uma narrativa tradicional no cinema. O intuito, segundo o diretor, é atrair o público jovem. Acostumados a verem distopias apocalípticas na TV e nos filmes, Willy aposta que sua utopia de felicidade fará a diferença. O longa possui uma turnê agendada na China e uma possível estreia na França, países que se mostraram interessados na alegria tupiniquim. No Brasil, a produção chega às telonas no dia 28 de junho. Até então, tudo bem!

 

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