Por Luciana Ramos

 

Com minuciosos desenhos feitos à mão e boa dose de magia, “A Bela e a Fera” (1991) foi um marco para os estúdios Disney, a coroação da revitalização passada pelo estúdio depois de amargar com a mesmice das produções dos anos 80 (com exceção de “A Pequena Sereia”, já resultado desse processo). Seguido de clássicos como “Alladin” e “O Rei Leão”, os anos 90 provaram ser o ápice criativo de um estilo que caiu em desuso na década seguinte.

Em sua nova fase, a empresa investe em remakes da suas animações clássicas, que servem tanto para apresentar velhos personagens a novos públicos quanto para garantir o retorno daqueles que anseiam revisitar os favoritos da infância. Ate então, o nível qualitativo tem se mantido e os resultados impressionam: desde a similaridade reconfortante de “Cinderella” ao espetáculo visual de “Mogli: O Menino Lobo” e a humanização da vilã em “Malévola”.

 

A nova versão live-action de “A Bela e a Fera” segue neste patamar, oferecendo as doses de magia e encantamento esperadas pelo público. Por isso, investiu-se em uma reconstrução arquitetônica detalhada, assim como na estilização das principais características dos personagens numa linha tênue entre o apelo do antigo e o moderno.

O requinte visual é acompanhado de uma trama que, embora siga a estrutura da versão anterior, deixa-se alongar por mais quarenta minutos, explorando com profundidade a relação entre Bela (Emma Watson) e o pai, Maurice (Kevin Kline), o funcionamento do feitiço, além de oferecer mais espaço de tela aos objetos, que servem ao propósito de entretenimento. Porém, ao longo da história de um príncipe que foi transformado Fera e uma camponesa francesa que se propõe a morar no castelo amaldiçoado em troca da liberdade do pai, surgem alguns pequenos problemas.

 

 

a bela e a fera

 

O mais evidente é o descompasso entre as músicas originais de Howard Ashman e Alan Menken e as novas gravações, que parecem descartáveis e contribuem para a sensação de alongamento desnecessário de algumas cenas. De fato, em alguns momentos, “A Bela e a Fera” soa menos orgânico do que o desejado, muito contribuído pela plasticidade do ambiente fantasioso.A narrativa sofre da mesma forma com a inserção demasiada de contexto em cenas não musicais, como a viagem para Paris e o encontro de Maurice com uma mendiga, que contribuem para uma quebra de ritmo.

 

Não obstante, há Emma Watson, que parece hesitante em seu papel, não passando a força necessária de sua personagem, Bela. A falta presença em cena é certamente sentida. Em contraponto, a maior parte do elenco faz um excelente trabalho: Ewan McGregor, Ian McKellen e Emma Thompson são amáveis e empáticos como os objetos de maior destaque, ao passo Josh Gad brilha como Lefou, apresentando em subtexto sutil sua atração por seu chefe e servindo de forma inteligente ao papel de alívio cômico. Luke Evans, por sua vez, destaca-se pelo modo com que trabalhou a comicidade inerente ao narcisismo canastrão de Gaston.

 

“A Bela e a Fera” oferece o divertimento luxuoso que salta aos olhos, tão característico da Disney. Equilibrando comédia e romance com sensibilidade, proporciona aos fãs da versão de 1991 uma conexão nostálgica, ao passo que se propõe a afastar-se de uma mera cópia. Ainda que tal escolha decorra em falhas, mostra-se um ótimo filme, apesar de não conseguir equivaler-se à qualidade artística da animação.

 

 

Confira também nosso post especial sobre o processo de produção do filme de 1991, que mudou a percepção da indústria sobre animações.

 

Ficha técnica bela e a fera poster


Ano:
 2017

Duração: 129 min

Nacionalidade: EUA

Gênero: fantasia

Elenco: Emma Watson, Dan Stevens, Kevin Kline, Luke Evans, Josh Gad, Emma Thompson, Gugu Mbatha-Raw, Ewan McGregor

Diretor: Bill Condon

 

Trailer:

 

 

 

Imagens:

Avaliação do Filme

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