Por Luciana Ramos
*CONTÉM SPOILERS*
No agora longínquo ano de 1985, espectadores do mundo todo ficaram embasbacados com a criação do Dr. Emmett Brown (Christopher Lloyd), conhecido como Doc. Sua máquina do tempo acabou por levar o seu amigo adolescente, Martin McFly (Michael J. Fox), em uma aventura ao passado de sua família, que pôs em perigo a sua própria existência.
Antes de irmos mais a fundo na análise das obras em conjunto, vamos relembrar o plot de cada um dos filmes e suas ligações.
“De Volta para o Futuro” apresenta um jovem extremamente carismático e identificável, chamado Martin McFly. Como todo adolescente, curte sair com a namorada e andar de skate. Do ponto de vista existencial, não consegue compreender os seus pais nem a maneira como vivem, desejando mais para o seu futuro.
Ele é amigo do genial e maluco Dr. Emmett Brown, que o convida para presenciar um experimento. Trata-se da invenção de uma máquina do tempo em um carro De Lorean modificado, que acaba levando Marty ao ano de 1955. Lá, desesperado para voltar ao seu presente, procura o Doc do passado para ajudá-lo. Porém, a interação com os seus pais jovens acaba fazendo a sua mãe, a adolescente Lorraine (Lea Thompson), rejeitar o pai George (Crispin Glover), pelo fato que ela se apaixona sem saber pelo próprio filho, Marty.
Este deve então consertar a história da sua família afim de validar a sua própria existência. Isso tudo a tempo de utilizar a energia da descarga de raios para retornar ao ano de 1985, sua única oportunidade.
São, salvo e de volta para o futuro, Marty vive feliz em 1985 até ser chamado por Doc para outra missão: viajar com sua namorada Jennifer até o dia 21 de outubro de 2015 para evitar que seu filho ainda não nascido seja preso e, assim, condene o futuro de toda a sua família.
Ao chegar no ambiente altamente futurista de “De volta para o futuro II”, Marty não consegue conter o seu espanto: os carros são voadores, as crianças usam hoverboards para se locomover, as roupas são ajustáveis com botões, as comidas são desidratadas e em miniatura, ente outras maravilhosas invenções futuristas.
Após interferir no futuro do filho para salvá-lo, Marty acaba pondo em risco novamente o seu futuro e passado ao comprar um almanaque de esportes. Com ele, o protagonista deseja reescrever o seu futuro para ser mais bem sucedido.
Após ser convencido por Doc a desistir da ideia, tem o livro roubado pelo velho Biff (Thomas F. Wilson), que usa o De Lorean para viajar o passado, transformar o rumo da sua vida e pôr todos os demais em perigo. Com isso, Marty usa a ajuda do velho Doc (a versão de 2015) para enviá-lo mais uma vez ao ano de 1955 e consertar tudo.
Ao final do segundo filme, um incidente faz com que Doc seja enviado ao ano de 1885, um século antes do primeiro filme. Com a descoberta que essa viagem acarretaria na morte do seu amigo, Marty decide viajar ao começo da civilização americana.
Encantado pela primitividade da cidade de Hilldale (que depois se tornaria Hill Valley), ocupada por barro e pouquíssimas construções em madeira, o adolescente tem que convencer o seu amigo cientista, agora trabalhando como ferreiro, a abandonar o Meio-Oeste e voltar ao futuro. Porém, um encontro com uma donzela indefesa desenrola uma série de acontecimentos que põe em risco a vida dos dois.
A trilogia “De Volta para o futuro” atingiu o status de clássico moderno ao longo das décadas e permanece cultuado e atual. Tamanho sucesso é resultado direto de alguns fatores preponderantes, como o fato de ser uma estória altamente divertida e cativante, com personagens inidentificáveis (quem não quer ser amigo de Marty e do Dr. Brown?), alto nível de criatividade, além de inúmeras referências pop, o que promove um apelo popular duradouro.
No entanto, o seu grande trunfo consiste nos seus roteiros. Diferentemente do que ocorre hoje em dia, em que sequências são em grande maioria releituras mal feitas do original, “De volta para o futuro” pode ser entendido como um grande filme, já que o arco dramático dos personagens só se completa de fato ao final do terceiro longa.
A narrativa é bem estruturada, o que torna as justificativas para as ações dos personagens plausíveis. Para atingir esse propósito, os roteiristas Bob Gale e Robert Zemeckis utilizaram os mesmos elementos em filmes diferentes e com contextos modificados como forma de “dar liga” à estória. São eles:
- O relógio: elemento mais importante, o relógio da torre é mostrado como monumento principal da cidade. Em 1985, no início da estória, vemos um homem tentando levantar fundos para conseguir consertá-lo, já que ele parou de funcionar após uma grande tempestade em 1955. Marty volta ao passado com em posse dessa informação, o que fornece uma janela de oportunidade para o Dr. Brown. Este bola um plano louco porém plausível para o retorno de Marty ao futuro: utilizar a energia gerada por um raio para impulsionar o De Lorean até o ano de 1985.
O mesmo relógio é ainda usado em “De Volta para o futuro III” como elemento de identificação com os longas anteriores. Ainda nesse contexto, o evento que o inaugura em 1885, em que Marty e Doc participam, acaba por alterar o destino dos dois personagens.
- Hoverboard: invenção futurista de 2015, o skate flutuante é posto no carro por Marty no segundo filme e usado no clímax da parte derradeira da trilogia, passada no faroeste.
- Estrume: utilizado apenas como alívio cômico, é interessante observar que tanto o bully Biff, do primeiro filme, quanto o vilão Bufford, do terceiro, caem em uma montanha de estrume quando perseguem Martin.
- Lorraine e Maggie: a mesma cena é usada pelo diretor Robert Zemeckis para introduzir Marty ao seu passado. No primeiro longa, Marty acorda em uma cama achando ter sonhado com sua viagem no tempo até descobrir que a mulher ao seu lado é a versão mais nova de sua mãe Lorraine. O mesmo acontece em “De Volta para o futuro III”, quando dá-se conta de que está preso em 1885 com a sua tataravó, Maggie.
Os roteiros “redondos” vão ao encontro de alta qualidade técnica. Além das precisas e detalhadas reconstituições de época dos anos 50 e século XIX, há a presença de uma trilha sonora forte e memorável, facilmente lembrada pelos fãs do filme, que adiciona emoção às cenas principais.
São inseridas ainda piadas de cunho pop envolvendo celebridades como o cantor Chuck Berry e o presidente-ator Ronald Reagan, que proporcionam alívio cômico e reafirmam a inteligência dos roteiristas.
Não obstante, o talento e carisma de Michael J. Fox e Christopher Lloyd tornam seus personagens extremamente identificáveis, alavancando assim a interação do público com a estória.
Por todos esses inúmeros motivos, é necessário sim celebrar a chegada de Martin ao futuro, mais precisamente ao dia 21 de outubro de 2015. Passados trinta anos do lançamento, “De volta para o futuro” mantém-se firme e continua encantador.
Para encerrar, separamos abaixo uma lista de curiosidades sobre a trilogia:
- O segundo e terceiro filmes foram filmados quase simultaneamente, com intervalo de apenas 3 semanas. Ao todo foram 11 meses de trabalho intenso, que incluía viagens do diretor Robert Zemeckis aos estúdios para checar a edição do “De Volta ao futuro II” enquanto o diretor de unidade (unit director) filmava panorâmicas e outros takes que não precisava do seu direcionamento na Califórnia.
- “De Volta ao futuro III” marca o primeiro beijo no cinema do ator Christopher Lloyd.
- Robert Zemeckis queria Michael J. Fox para o papel de Martin McFly desde o começo. No entanto, este não estava disponível pois estrelava uma famosa série de TV, Family Ties (“Caras e caretas” no Brasil). Foi contratado outro ator, Eric Stoltz, que gravou durante seis semanas antes de ser dispensado. Michael J. Fox fez um acordo que consistia em gravar a série de dia e o filme às noites, o que lhe rendia apenas duas horas de descanso.
- A viagem no tempo do roteiro original seria feita com uma geladeira. A ideia foi descartada e o DeLorean modificado entrou em cena, o que não só deixou o filme mais cool como também adicionou uma série de obstáculos aos personagens, enriquecendo a estória.
- A cidade de Hill Valley, mostrada em três tempos diferentes ao longo da trilogia, em 1885,1955 e 2015, foi completamente construída em estúdio, o que facilitou as filmagens.
Preparamos um material especial contrastando as previsões feitas em “De volta para o futuro II” e a realidade em que vivemos. Confira clicando aqui!
Ficha técnica da trilogia
Anos: 1985, 1989, 1990
Durações: 116 min, 108 min, 118 min
Nacionalidade: EUA
Gênero: aventura, ficção científica, comédia
Elenco: Michael J. Fox, Christopher Lloyd, Lea Thompson
Diretor: Robert Zemeckis
Trailer de “De Volta para o futuro”:
Imagens: