O relato de Anthony Rapp parece ter sido o estopim da revelação de mais um predador sexual que permanecia encoberto e atuante em Hollywood. Outras quatro fontes acusaram Kevin Spacey de conduta sexual ofensiva, sendo dois destes menores na época do ocorrido. Posteriormente, membros da equipe de “House of Cards” pronunciaram-se à CNN com relatos de conduta inapropriada.
O ator mexicano Roberto Cavazos trabalhou na Old Vic Company Theather sob direção do ator e relatou que “o único requisito para ser tocado inapropriadamente pelo Sr. Spacey era ser um homem com menos de 30 anos”. O documentarista Tony Montana, por sua vez, o acusou de ter agarrado suas partes íntimas em um bar, à vista de todos, em 2003. Ele alega ter recuado e deixado o local rapidamente e nunca mais ter encontrado novamente com o ator.
Os outros dois depoimentos foram prestados anonimamente respectivamente a BBC e Vulture. O primeiro refere-se a um rapaz que trabalhou com Spacey em uma montagem teatral de verão quando tinha 16 anos, em 2003. Após convites efusivos, ele aceitou visitar o ator mais velho em seu apartamento onde, com muita insistência, conseguiu dormir no sofá – e não no quarto, como Spacey queria. Porém, acordou com este em cima dele, realizando algum tipo de ato sexual. Conseguiu sair do apartamento após apelos ao contrário se sentindo desconfortável e desconfiado, sem saber ao certo se algo havia acontecido enquanto dormia. O jornal The Guardian publicou que este caso está agora sob investigação da divisão especial da Scotland Yard por ter ocorrido em território inglês.
O outro depoimento discorre o caso que Spacey teve com um jovem de 14 anos em 1983. O homem, agora com 48, diz ter engajado em um “relacionamento consensual” de início e que não via problemas com a diferença de idade. Porém, os encontros evoluíram de maneira desconfortável até que, em um deles, Spacey teria tentado estuprá-lo – o agarrou e baixou suas calças enquanto o adolescente repetidamente gritava “não”. Após alguma luta, conseguiu sair do apartamento onde estavam e cortou contato com o ator. Ele termina seu relato afirmando categoricamente que Spacey é “um pedófilo e predador sexual”. Os advogados do ator, no entanto, negaram veementemente esse caso.
A rede de televisão americana CNN entrevistou membros da equipe da série da Netflix “House of Cards” e oito deles relataram já terem sido vítimas de assédio de Spacey, que atua no papel principal. O ambiente de trabalho foi descrito no artigo como “tóxico” pela reiteração do comportamento abusivo. Um assistente de produção (que também optou por permanecer anônimo) conta que o ator agarrou as suas partes íntimas enquanto este o levava para o set.
A Netflix e a Media Rights Capital confirmaram que uma investigação sobre conduta inapropriada do ator ou, mais especificamente, sobre um gesto seu, foi conduzida ao longo do primeiro ano de produção mas, segundo eles, foi rapidamente resolvida e outros incidentes não foram reportados. No entanto, as filmagens da sexta e última temporada continuam interrompidas. Sobre o caso, o ex-showrunner Beau Willimon (que deixou o comando da série em 2016) disse que tais relatos nunca haviam sido levados a ele e, por isso, não agiu anteriormente, mas que se sente péssimo em saber das alegações. Cabe lembrar que ele desenvolvia a série, mas não participava das filmagens cotidianas nos sets.
Na quarta-feira, dia 01 de novembro de 2011, a assessora de imprensa do ator, Staci Wolf, revelou que Spacey está buscando ajuda e fazendo todos os tratamentos necessários para corrigir o comportamento. Porém, no dia seguinte, a mesma anunciou que a Creative Artists Agency – empresa em que trabalha – rompeu contrato com ele e não mais o representa; o mesmo caminho foi seguido pela agência de atores CAA, uma das maiores do ramo.
A Sony Pictures, por sua vez, tenta lidar com a bomba que tem nas mãos: Kevin Spacey atua em um dos filmes da companhia, “Todo o Dinheiro do Mundo”. Desenvolvido em segredo por Ridley Scott, foi anunciado há pouco tempo, apresentando o ator no trailer como o trunfo escondido no filme; seu rosto revelado apenas no final sob pesada maquiagem, algo que a Academia agora. A intenção era claramente trabalhar esse lançamento como potencial concorrente ao Oscar, mas diversos sites americanos já reportaram que esse plano foi engavetado. Porém, a estreia do filme foi mantida – até o momento – para dezembro, já que a Sony teme perder audiência caso lance o longa após janeiro, quando Danny Boyle exibirá uma minissérie com o mesmo tema para a FX.
https://youtu.be/6x62O8A8qHw
[UPDATE: 11/11/2017]
A Netflix comunicou o rompimento absoluto com Spacey, o que significa que ele não participará da última temporada de “House of Cards”. Além disso, outro projeto comum, a biografia do pensador Gore Vidal, “Gore”, foi abandonada pela plataforma de streaming – sendo que já pronta para o lançamento. O diretor Ridley Scott também tomou medidas drásticas pra proteger seu filme: cortou o ator de todas as suas cenas, que serão refilmadas por Christopher Plummer. A decisão já foi adotada em outras produções, mas geralmente em decorrência de doença ou até falecimento, nunca antes ocasionada por um escândalo externo à produção. No entanto, esse é o tipo de filme “prestigioso”, que se paga pela promoção obtida por possíveis indicações a prêmios. Neste intuito, Scott declarou que vai refilmar por 8 a 10 dias e promete entregar o filme pronto na data de lançamento, prevista para dezembro – quando as votações para o Globo de Ouro, SAG e Oscars ocorrem.