Há poucas semanas, especulações sobre a venda da 21st Century Fox aguçaram os sentidos da indústria, que via a aquisição com preocupação – dada a maior concentração de mercado nas mãos de um único player. Nesta quinta-feira, dia 14 de dezembro, o acordo foi enfim anunciado e a Disney tornou-se a dona dos ativos de cinema e televisão da Fox. Para isso, desembolsou um total de 52.4 bilhões de dólares, sendo a oferta composta por aquisição de ações e 13.7 bi em dívidas da companhia de Rupert Murdoch. A compra significa uma quebra expressiva no império de comunicações do dono da empresa, que passou a vida comprando ativos afim de tornar-se o maior conglomerado de comunicações dos Estados Unidos.
Sobre a decisão, Murdoch declarou: “Nós estamos extremamente orgulhosos do que construímos na 21st Century Fox e eu acredito firmemente que a combinação vai aumentar ainda mais o valor para os nossos shareholders; além disso, acredito que, sobe liderança de Bob Iger, essa será uma das maiores empresas do mundo”.
A Fox, embora tenha tido um ano bom, tem declinado em faturamento ao longo das décadas e encontrava-se em dificuldades financeiras. Seu lado artístico, por outro lado, compensava por produções mais arriscadas, como “Logan” e “Deadpool”, ambas muito bem recebidas pelo público. Na sua venda inclui-se todo o portfólio de filmes, como “O Grande Hotel Budapeste” e o ainda inédito (e forte concorrente na temporada de prêmios) “A Forma da Água”, além da retomada dos direitos de personagens da Marvel como o Quarteto Fantástico e os X-Men, o que poderia suscitar em produções repaginadas. Ainda na cartilha, estão longas como “Avatar”, que tem um novo filme em produção, e “Planeta dos Macacos”.
Com a obtenção dos canais de entretenimento, como a FX, a Disney também toma posse da produção de séries famosas, como “This Is Us”, “The Americans”, “Os Simpsons”, “Homeland” e “Modern Family”. Não obstante, combinando os 30% que detinha do canal de streaming Hulu com os 30% que a Fox possuía, é agora o seu maior acionário, seguido pelo Comcast e Time Warner. Seu plano, segundo pensamento racional, seria comprar as outras partes, mas especialistas da área apontam dificuldades em convencerem as outras empresas.
O streaming é apontado como um fator determinante da compra de uma das mais antigas majors pela Disney: a aquisição de ativos incrementa de forma substancial os planos da empresa de lançar canais de streaming próprios, uma clara estratégia de se estabelecer como principal concorrente da Netflix. O discurso de, Bob Iger, CEO da Disney, que permanecerá no cargo atá 2021 para supervisionar a fusão, reforça exatamente essa posição: “A aquisição de uma coleção estelar de negócios da 21st Century Fox reflete a demanda crescente do consumidor por uma rica diversidade de experiências de entretenimento que são mais acessíveis e convenientes do que anteriormente”.
Sendo esta ou não a motivação essencial da transação, é relevante ressaltar que, segundo estimativas, agora uma única empresa será detentora de cerca de 40% da bilheteria dos Estados Unidos. Uma maior concentração de capital aponta para possíveis problemas artísticos, dada a tendência de investimento em poucas produções de maiores lucros (a Disney lançou apenas 13 filmes no ano passado). Assim, essa pode ser uma péssima notícia para os cineastas de gênero ou independentes que desejam financiar filmes mais autorais, menores. Por conta disso, a Writers Guild of America West (parte oeste do sindicato de escritores americanos) condenou veementemente o acordo, ao qual categorizou de “esforço incansável de eliminar competição”.
Numa tentativa de acalmar os ânimos daqueles que temem não ver mais produções como “Deadpool” nos cinemas ou “The Handmaid’s Tale” na TV, a empresa anunciou que manterá a ordem já estabelecida, por entender que diferentes pessoas anseiam por materiais distintos. Assim, não amenizará conteúdos para torná-los palatáveis ao consumo familiar (como estrategicamente age) e manterá a essência de cada conteúdo inabalável.