Em 2005, Felipe Sholl, ainda estudante de cinema, desenvolveu uma ideia sobre um romance entre um adolescente e uma mulher mais velha, na casa dos quarenta. Mais de dez anos, vários tratamentos (como ele mesmo pontua) e outros trabalhos como roteirista, ele finalmente lança sua obra, que também marca sua primeira empreitada na cadeira de diretor. Junto com os atores Denise Fraga, Karine Teles, Tom Karabachian e Daniel Rangel, ele debateu sobre “Fala Comigo”.
O longa conta a estória do encontro entre Diogo (Tom Karabachian) e Ângela (Karine Teles). Ele, com 18 anos, excita-se telefonando anonimamente para pacientes da sua mãe, a psicanalista Clarice (Denise Fraga). Sua preferida é Ângela, que sempre chora copiosamente pedindo para o ex-marido retornar para casa. Um incidente faz os dois saírem das sombras e interagirem. Daí, surge um amor que enfrentará os preconceitos de amigos e da família dele para se concretizar.
Sobre o roteiro, Felipe Sholl falou que realizou pouca pesquisa para compor a trama, já que retrata um meio familiar ao seu: a classe média carioca. Sua escolha por não buscar a fundo informações sobre psicanalistas que trabalham em casa, por exemplo, como o caso de Clarice, é justificada pelo medo de tornar o roteiro muito engessado, perdendo assim o apelo instintivo. Por outro lado, revelou que precisou pesquisar os aspectos legais da união, não condenável a partir de 14 anos no Brasil, e brincou: “o único crime cometido no filme é dar bebida a menores”.
Ele ainda citou “Felicidade”, de Todd Solondz, como referência e enfatizou sua predileção por trabalhos colaborativos, em que o roteiro é aberto à sugestões dos atores. Sobre a produção, revelou que a primeira pessoa a integrar o elenco foi Denise Fraga. “Nós trabalhamos juntos no longa “Hoje”, filme da Tatá Amaral, em que eu escrevi o roteiro e ela atuou. Quando eu vi a Denise, pensei: é ela. Depois de ela aceitar participar, eu comecei a rever a personagem, entender melhor o lado dela e, dessa forma, ela foi se tornando mais tridimensional”.
Perguntado sobre o significado do título da obra, ele declarou: “esse filme teve uma longa trajetória até ir para a tela e durante a maior parte ele se chamava “Ao Lado”, que era um título que eu não gostava muito. “Fala Comigo” surgiu na montagem. Ele é um pedido proferido por Ângela na primeira cena e também dito por Diogo em outra ocasião. Eles são os únicos dois personagens que pedem explicitamente pela comunicação, mas todos os outros poderiam fazer a mesma coisa”.
Assim, ele afirmou o silêncio como parte importante de sua obra, trabalhado tanto na incomunicabilidade do roteiro como pela escolha estética de abusar dos closes. Sobre isso, Denise Fraga disse: “cada vez mais eu acho que como atriz o silêncio é a palavra mais importante. No cinema, quando o diretor deixa o ator olhando um tempo em close, cria-se um enigma, um mistério”. Ela ainda atrelou essa decisão a uma dose de coragem, pois é mais difícil se trabalhar com pausas que, uma vez encadeadas, explodem em cena.
Os atores refletiram sobre o amor pouco convencional retratado na tela. Karine Teles, interprete de Ângela, defendeu o relacionamento dos personagens. Ela falou: “eu acho que o romance vai além da questão da diferença de idade, isso é só mais um fator. Qualquer questão que reduza a complexidade do ser humano eu acho uma oportunidade perdida de descobrirmos coisas incríveis. Todo amor vale a pena e eu espero que as pessoas se amem cada vez mais.” Tom Karabachian, que faz o papel de Diogo, complementou: “não vejo um problema com o namoro dos dois, pois é nítido que eles se amam. Na verdade, acho que ambos se tornam mais saudáveis juntos”.
Analisando a situação de sua personagem, que vê o filho adolescente se envolver com uma mulher mais velha, Denise Fraga ponderou: “quando eu estava filmando, o meu filho tinha exatamente a idade do personagem e claro que eu pensei muito nisso. Se ele aparecesse com uma mulher da minha idade como primeira namorada, que estava iniciando ele sexualmente, eu teria mais medo de que ela talvez agisse mais como mãe do que parceria”.
Karine Teles ressaltou a relevância desse filme pois, segundo ela, ele coloca o espectador em uma posição de reavaliar os próprios preconceitos. Denise complementou: “o que eu acho incrível do roteiro é que ele deixa a gente nesse lugar de reflexão absoluta. Diante disso, você sai do cinema alargado, esticado, com vetores para todos os lados, fazendo seu pensamento refletir”.
Ao falar sobre seu trabalho como atriz, Karine aproveitou para elogiar o trabalho de Felipe Sholl. Ela disse: “para a gente se entregar nos papéis, tem que ter muita confiança no diretor e o Felipe nos deixou muito seguros. Ele se interessava muito mais no que os personagens estavam sentindo do que fazendo e isso faz toda a diferença”. Tom Karabachian, que faz sua estreia em longas, adicionou: “além dele ser um diretor fantástico, ele também é um ótimo preparador de elenco e realmente ajudou a gente na construção dos personagens. Esse cuidado, essa atenção é fundamental para o resultado final”.
“Fala Comigo” estreia em circuito nacional no dia 13 de julho.
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