A Sony Pictures lançou um projeto chamado “versão limpa” (clean version) em que disponibiliza seu catálogo de filmes editado, com cortes significativos em violência, linguagem pesada e cenas de sexo. Ainda como alternativa há a mudança de diálogos por frases parecidas com linguagem mais inocente. A justificativa dada para essa iniciativa foi a de que versões alternativas das obras “aumentam as possibilidades de alcance da audiência, dando as pessoas a chance de verem os filmes juntas”.

A “limpeza” é apresentada como alternativa para o conteúdo consumido em mídias digitais, como o Itunes, e disponibilizado em serviços de bordo de companhias aéreas: em qualquer uma dessas plataformas, quando o consumidor realiza a compra do filme original, “ganha” a opção de acessar uma versão mais light da obra. Até o momento, 24 filmes do catálogo do estúdio foram modificados, incluindo “Como se Fosse a Primeira Vez”, “Capitão Phillips”, além dos longas do Homem-Aranha.

 

O teor polêmico da proposta parece passar despercebido para a Sony – que só enxerga a possiblidade de aumento de lucro – mas tem sido exaltado pelos diretores, em clara oposição à proposta. Um deles é Seth Rogen, que usou o Twitter para proferir um apelo: “Por favor, não façam isso com nossos filmes”. Nenhum dos seus longas ainda foi escolhido para fazer parte do projeto, mas Rogen colabora de forma frequente com o estúdio e é conhecido pelo estilo provocador. Caso seu último lançamento, o longa de animação “Festa da Salsicha”, sofresse reedição para retirada de conteúdo sexual, não restariam nem cinco minutos de projeção.

 

Ao se defender, a organização declarou ao THR que procurou os 18 diretores das obras escolhidas e que o processo foi devidamente discutido com eles. Não parece ser o caso de Adam McKay, que disse não ter conhecimento prévio de que seu filme “Quase Irmãos” sofreria 152 exclusões de “linguagem inapropriada”, 91 de conotação sexual e 22 contendo violência.

Essa não é a primeira vez que um filme é cortado para projeção em alguma plataforma mais conservadora (vide exibições em televisões abertas), mas nunca antes um estúdio agiu por conta própria com o intuito de oferecer uma versão “limpa” dos seus produtos. O que está em jogo aqui é a mutilação das obras, já que cada cena é essencial para apreciação do tema : a mera supressão de termos e sequências invariavelmente afeta o entendimento pleno do conteúdo de qualquer filme e sua alteração sem o consentimento dos diretores é uma clara falta de respeito por parte do estúdio – além de uma evidência de miopia artística.

O Directors Guild Association (sindicato dos diretores norte-americanos) condenou com veemência a Sony Pictures, afirmando que a iniciativa viola o contrato firmado entre as partes e que protegerão o interesses dos realizadores, que “dedicaram anos de trabalho duro para transpor em completude suas visões nos filmes”.

O embate ainda está no começo e não tem perspectiva de resolução, mas já provocou a ira de vários diretores. Judd Apattow foi um dos que se manifestou publicamente, indicando de maneira pouco delicada onde a Sony deve enterrar sua iniciativa.

 

 

 

 

Fontes: THR, Vanity Fair

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