Por Andressa Araújo

 

Dizem que um bom passo para organizar a vida é começando de fora para dentro. Em”Gente de Bem”, o protagonista Anders Hill (Ben Mendelsohn) opta por iniciar essa jornada arrumando a própria casa. E é assim que sua história começa a ser apresentada ao público: a de um homem recém divorciado, pai de um ex-viciado e que tenta reconstruir a vida em meio a um turbilhão de acontecimentos que logo se revelam traumáticos.

Se as características acima soam familiar aos ouvidos de quem acompanha outros dramas sobre famílias disfuncionais, a diretora Nicole Holofcener – de “À Procura do Amor” e “Amigas com Dinheiro” – decide tornar seus personagens extremamente sinceros, revelando em seus diálogos verdades que raramente são ditas na vida real. O filme, portanto, se torna mais profundo à medida que a trama se desenrola.

 

 

Produzido pela Netflix, o longa traz Anders (Mendelsohn) prestes a desfrutar da liberdade após decidir abandonar a família e o emprego. O que ele não esperava era que sentiria falta de sua antiga vida e não conseguiria se desprender tão facilmente de sua agora ex-esposa (Edie Falco). Paralelamente, está o caso de Charlie (Charlie Tahan), um adolescente viciado em drogas e que faz mudar o rumo de toda a história do longa.

O roteiro, também adaptado por Holofcener, aborda amizade, paternidade e sentimentos como o de abandono na adolescência e o de ser substituído. É o caso do próprio protagonista, que em uma das cenas diz: “Eu tinha uma visão de vida. Era como uma teia. E quanto mais fios saíssem de você, mais importante você era, certo? Mas se você desaparecer, as pessoas que estavam na sua vida aprendem a depender de outro alguém. Aí, a teia se refaz e segue em frente sem você”.

Todas essas temáticas, no entanto, são abordadas sem exageros e com poucos clichês, necessários para a abordagem da diretora de assuntos tão contemporâneos. O elenco, no entanto, parece ter dificuldade em expressar o sentimentalismo presente na história, deixando para o roteiro a responsabilidade de impactar o público. Nesse sentido, cenas como a de Preston (Thomas Mann), o filho do protagonista, perto dos trilhos do trem e a do jantar, que seria a “hora da verdade”, poderiam ter se tornado uma das partes mais marcantes, uma vez que são umas das cenas mais importantes do filme.

 

 

As exceções são as atuações de Mendelsohn e Charlie Tahan – este último conhecido por interpretar o rebelde Wyatt na série “Ozark” – e da química construída entre eles. Com problemas diferentes, mas igualmente problemáticos, ambos os personagens desenvolvem entre si uma amizade cativante, em especial diante da performance natural, que beira ao espontâneo, do jovem Tahan.

“Gente de Bem” se revela uma produção leve, apesar do peso de alguns assuntos tratados. Sem personagens perfeitos ou repletos de falhas, o que fica ao final da sessão é a ideia de que sempre há um recomeço, não importa quantos erros se tenha cometido. É um filme necessário para refletir sobre família e relações interpessoais.

 

Pôster

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Ficha Técnica

 

Ano: 2018

Duração: 98 min

Gênero: Drama

Direção: Nicole Holofcener

Elenco: Ben Mendelsohn, Charlie Tahan, Connie Britton, Thomas Mann

 

Trailer: 

 

Imagens:

Avaliação do Filme

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