Por Luciana Ramos

Concebido como um veículo para o ator Jason Momoa, “Justiça em Família” marca a quinta colaboração entre ele e Brian Andrew Mendoza, que atuava como produtor e migrou para a cadeira de diretor. Simplista, a trama tenta explorar os talentos que alçaram Momoa à fama – seu aspecto sisudo, de macho alpha, combinada à uma vulnerabilidade inesperada. Atendo-se a reviravoltas previsíveis e combinações apelativas, de flahsbacks ao uso clichê da trilha sonora, o longa não consegue mostrar-se minimamente relevante, ou mesmo satisfatório.

Ray (Jason Momoa) é um homem dedicado à esposa e à filha, Rachel (Isabela Merced). Para seu desespero, o câncer de Amanda (Adria Arjona) retorna e, impossibilitados em arcarem com as vultuosas despesas médicas privadas, os Coopers depositam sua esperança em um tratamento experimental e promissor, que se encontra em andamento para aprovação definitiva pelos órgãos reguladores.

O processo é subitamente interrompido e os indícios apontam para a interferência direta de Simon Keeley (Justin Bartha), CEO de uma grande farmacêutica que produz um medicamento com a mesma substância por um valor muito mais alto. Conforme esperado, o quadro de Amanda deteriora rapidamente e Ray, tomado pela dor, prenuncia sua vingança ao empresário em cadeia nacional.

A rápida aparição de um jornalista o leva a focar no seu plano, que se revela bem direto e muito mal pensado. Espalhando vestígios de atividades criminosas por todos os lados, ele e Rachel são facilmente seguidos pelo FBI (já que nem se dão ao trabalho de fugirem com um carro diferente do registrado no nome dele), mas contam com a colaboração empática de uma agente, Sarah Meeker (Lex Scott Davis), que apela para a rendição da dupla.

A partir deste ponto, a trama desdobra-se em cenas de ação (bem-feitas) e os seus ridículos pontos de interseção. A facilidade do avanço de um “plano” mal estruturado e impulsivo só é menos alarmante que as inúmeras tentativas dos roteiristas Greg Hurwitz e Philip Eisner em inserir plot twists como bengalas narrativas, que teoricamente seriam capazes de tapar os demais furos da arquitetura conceitual de “Justiça em Família”.

O uso enjoativo de “Sweet Child of Mine”, do Gun’s and Roses soma-se à dinâmica melodramática de pai e filha – ele projeta a força, a violência; ela, a bondade e inocência, vide seu apego a um bichinho de pelúcia – para culminar em uma experiência demasiadamente chata e, portanto, incapaz de oferecer qualquer tipo de recompensa a quem se dispõe a assistir ao filme.

Muito pior é a investida em uma última reviravolta que, de tão absurda, colapsa de vez a premissa básica da história e, assim, reforça a fraqueza do material. Em meio a tantos problemas, não restam razões para assistir à nova produção da Netflix.

Ficha Técnica

Ano: 2021

Duração: 110 min

Gênero: ação, drama, suspense

Direção: Brian Andrew Mendoza

Elenco: Jason Momoa, Isabela Merced, Manuel Garcia-Rulfo, Amy Brenneman, Justin Bartha

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