Por Murillo Trevisan

O setor de hotelaria sempre teve uma conexão deliciosa com o cinema. Não é difícil encontrar excelentes exemplos de sucesso como, o clássico Bates Motel de “Psicose”; o excêntrico Hotel Budapeste de Wes Anderson; ou o sinistro Hotel Overlook de “O Iluminado”. O mistério que paira sobre os hospedes ou das intimidades que cada quarto revela, despertam uma imensa curiosidade ao espectador. Seguindo nessa mesma linha, o cineasta Drew Goddard (“O Segredo da Cabana”) aposta em trazer seu suspense para o El Royale.

Passado no sombrio ano de 1969, “Maus Momentos no Hotel Royale” narra a trajetória de sete desconhecidos que se encontram por acaso em um hotel decadente localizado perto de Lake Tahoe, na fronteira entre Nevada e Califórnia. Cada um deles tem um segredo obscuro e precisa encontrar redenção durante a noite, antes que tudo dê errado.

A princípio esse encontro é feito de maneira leve com diálogos cômicos, reunindo os personagens que chegam praticamente ao mesmo tempo no saguão principal do despovoado Hotel para o check-in. As peculiaridades de cada hóspede vão sendo expostas, aumentando nosso interesse em saber o que se passa ali. Mas é quando Laramie Sullivan (Jon Hamm) descobre o abundante número de equipamentos de espionagem escondidos em seu quarto – somado aos corredores secretos por detrás das paredes – que o filme nos promete grandes revelações.

Infelizmente, essas mesmas promessas não são concretizadas. Ao contrário de seu primeiro longa “O Segredo da Cabana”, que constrói uma trama simplista deixando o grande ápice para seu épico final, aqui o roteiro de Drew Goddard consegue ser efetivo na construção desses mistérios apenas no primeiro ato, praticamente os deixando de lado em seu meio e conclusão. Os signos visuais também são sub-aproveitados, como é o caso da linha da fronteira Califórnia x Nevada que são exaltadas em alguns enquadramentos simétricos, mas pouco é explorado, servindo mais como uma metáfora para a dualidade dos protagonistas. Ou a falta de exploração da ambientação no ano de 1969, ressaltada apenas por breves notícias sobre o presidente Nixon ou de Charles Manson na tv do saguão do hotel.

A inteligência está na estrutura da história, optando por uma narrativa não-linear, separando os capítulos em localidades, como a linha temporal de cada quarto. A construção de personagens também aprofunda cada indivíduo deixando o maniqueísmo de lado, apresentando seus reais motivos para procurarem o El Royale para se hospedar.

Não há como passar despercebido o trabalho brilhante desse elenco, composto por Jeff Bridges (“A Qualquer Custo”), Cynthia Erivo (“As Viúvas”), Dakota Johnson (“Cinquenta Tons Mais Escuros”) e Lewis Pullman (“A Guerra dos Sexos”). Mas o destaque fica para Chris Hemsworth (“Thor: Ragnarok”), que interpreta o líder de uma seita religiosa, e para Jon Hamm (“Mad Man”) que tem uma grande eficácia em ludibriar o espectador com seu jeito seguro de ser.

Entre altos e baixos, “Maus Momentos no Hotel Royale” é um ótimo suspense – com direção e estética competentes e caprichosas – mas que podem ser sabotadas pela expectativa de suas promessas mal cumpridas.

Ficha Técnica

Ano: 2018

Duração: 141 min

Gênero: Crime, Drama, Mistério

Diretor: Drew Goddard

Elenco: Jeff Bridges, Cynthia Erivo, Dakota Johnson, Jon Hamm, Chris Hemsworth, Nick Offerman

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