Conforme previsto, a onda de acusações contra o magnata da indústria de entretenimento Harvey Weinstein abriu as portas para outras vítimas se pronunciarem. Foi o caso do ator Anthony Rapp, que deu uma entrevista para o Buzzfeed News onde descreve uma situação de assédio envolvendo o ator Kevin Spacey.

 

Quando tinha 16 anos, Rapp despontava como uma nova estrela da Broadway na peça “Precious Sons”, o que o levou a participar de festas promocionais (eventos típicos para angariar votos nas premiações). Estas, por sua vez, o levaram a conhecer Kevin Spacey, até então um ator de 26 anos que começava a se tornar conhecido graças ao sucesso de “Long Day’s Journey Into Night”, onde atuava com o lendário Jack Lemmon.

 

Após alguns encontros casuais, Spacey convidou o adolescente a vir à sua casa para uma festa. Rapp relembra ter achado normal, já que, enquanto ator mirim (tendo começado aos 09 anos), estava acostumado com estas situações. Seu desconforto era o de ser o único rapaz de sua idade, que o levou a se esconder no quarto do apartamento, onde ficou assistindo televisão até ver Spacey na porta e se dar conta de que a festa teria acabado. Ao tentar sair, foi supostamente carregado pelo ator mais velho e jogado na sua cama, onde o este deitou em cima do seu corpo e o pressionou de maneira insistente. Rapp diz que conseguiu se desvencilhar com esforço pois Spacey estava claramente bêbado.

 

O ator Anthony Rapp

 

A experiência foi descrita no artigo como traumatizante, o que o levou a confidenciar a pessoas mais próximas ao longo das décadas, quando foi desencorajado a tomar medidas mais drásticas. À luz das novas denúncias feita por mulheres, ele se sentiu à vontade para falar no assunto e quis (conforme nota oficial) contribuir para uma indústria mais verdadeira e, quem sabe, ajudar alguém em situação semelhante à que viveu.

 

Kevin Spacey, por sua vez, usou o Twitter para se defender, mas seu pedido de desculpas foi amplamente criticado. Ele começa dizendo não se lembrar do incidente, pontuando que foi há mais de trinta anos e pedindo desculpas por “um comportamento bêbado completamente inapropriado”. Então, descreve sua vida amorosa com homens e mulheres para enfim se declarar “um homem gay”.

 

A declaração foi recebida com escrutínio pela indústria, a começar pela GLAAD, associação que fornece apoio aos homossexuais. Em nota, a CEO relata a consternação de muitos outros: o uso da “saída do armário” como manobra de manipulação para desviar a atenção de uma denúncia grave de assédio sexual, em especial por ser contra um menor. Como pontuado por alguns ativistas, como Dan Savage, a inclusão da questão gay ao lado da pedofilia é extremamente nociva a uma comunidade que luta há muitas décadas pelo seu reconhecimento e, infelizmente, foi taxada de adjetivos pérfidos no passado como forma de descrédito.

 

Enquanto isso, as alegações contra condutas inapropriadas de Spacey ao longo de décadas crescem, sendo tratadas pelos veículos de mídia como mais um “segredo aberto de Hollywood”, assim como os casos envolvendo Harvey Weinstein. A jornalista Heather Unrich havia usado o Twitter em 13 de outubro para denunciá-lo e, agora, a atenção se voltou para seu relato. Nele, ela diz: “o #weinsteinscandal (escândalo de Weinstein) me encorajou – hora da verdade. Eu era uma fã de Kevin Spacey até ele assediar uma pessoa querida”.

 

O Deadline, por sua vez, publicou um artigo onde diz que Victoria Feathersome, que trabalhou na Old Vic Theather (companhia de teatro que tem o ator como chefe criativo) falou sobre o assunto em uma entrevista à Radio 4, onde disse: “eu acho que muitas pessoas no teatro e na indústria criativa tem conhecimento sobre várias histórias de várias pessoas ao longo dos anos e o Kevin Spacey seria sim um desses que outros se preocupavam acerca da conduta”.

 

Em meio ao escândalo, a Netflix anunciou o cancelamento de “House of Cards”: a sexta temporada, a ser lançada em 2018, será a última. Enquanto especialistas da indústria pontuam que obviamente a decisão decorre muito mais da queda brusca de qualidade narrativa (e consequente aceitação do público) do que de recentes alegações, o timing usado foi conveniente para distanciar a plataforma de streaming de acusações que denotam a permissividade da indústria com práticas criminosas. Posteriormente, ela cessou totalmente a produção da nova temporada para lidar com o assunto, declarando precisar de “tempo para lidar com o assunto e sanar quaisquer preocupações do elenco e equipe”.

 

Consideram-se, no entanto, spinoffs da série que, junto à “Orange is The New Black”, catapultou o status da plataforma e a consolidou no mercado como grande player. Três ideias estão sob análise, segundo a Variety, sendo uma delas em torno do personagem Doug Stamper (Michael Kelly). “House of Cards” conquistou até o momento o exorbitante número de 53 indicações ao Emmys Awards, principal prêmio da televisão americana.
 
 

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