Por Murillo Trevisan

 

De suma importância para o seu país, “Rafiki”, segundo longa da cineasta Wanuri Kahiu (“From a Whisper “) foi o primeiro filme queniano a ser selecionado para competir no Festival de Cannes. O drama chamou a atenção da mídia estrangeira, pois ao mesmo tempo em que era bem recebido no festival, sua exibição estava sendo proibida em seu próprio país de origem, por tratar de temas que ainda são tabu no Quênia.

Baseado no conto “Jambula Tree”, um romance da ugandense Monica Arac de Nyeko ganhador do prêmio Caine em 2004, “Rafiki” reinterpreta a história de Romeu e Julieta colocando duas mulheres no centro de seu relato: Kena (Samantha Mugatsia) e Ziki (Sheila Munyiva), pertencentes a duas famílias rivais em eleições locais. A “amizade” das duas começa a estremecer quando são alvo das fofocas que correm na pequena comunidade em que vivem, disseminadas pela Mama Atim (“Muthoni Gathecha”), dona de um bar da região.

 

 

Kena, a principal protagonista, não segue os padrões de feminilidade convencional, usando roupas masculinas, andando de skate e jogando futebol com os meninos. Mesmo assim, a não aceitação da homossexualidade é explicitada quando recebe cantadas de seu amigo Blacksta (“Neville Misati”) ou sugestões de sua mãe para casar com um médico rico. Ziki já é mais vaidosa, se veste de maneira extravagante, com seus cabelos coloridos e maquiagem exagerada. De início, é ela quem toma as atitudes, se mostrando mais madura na relação e segura de si mesma, que no decorrer da projeção essa posição vai se desgastando por influências externas.

Diferentemente do clássico de William Shakespeare, a rivalidade das famílias não é o tema principal da trama. Embora o conflito – onde um dos candidatos se diz “do povo” enquanto o outro prega “Deus acima de todos” – ambos rejeitam a relação das duas por poder influenciar negativamente em suas campanhas. Outro fator que também as diferencia é a positividade da obra: embora evidencie os preconceitos e atrocidades que as pessoas podem cometer em prol do conservadorismo, ela carrega um tom alto astral reafirmado pela direção de arte ao utilizar uma gama de cores bastante saturada e diferenciada, prestigiando assim a cultura africana.

 

*Esta crítica faz parte da cobertura da 42ª Mostra Internacional de Cinema de São Paulo.

 

Pôster

 

 

Ficha Técnica

 

Ano: 2018

Duração: 83 min

Gênero: drama

Direção: Wanuri Kahiu

Elenco: Samantha Mugatsia, Sheila Munyiva, Neville Misati, Nice Githinji

 

Trailer:

 

 

Imagens:

 

Avaliação do Filme

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