Por Paulo Lannes
A princípio, trata-se de um filme sobre o universo judiciário e todo seu sistema racista. Porém, o que se desvela diante da tela é um olhar atencioso sobre a personalidade do advogado Roman J. Israel, interpretado pelo excelente Denzel Washington. Seu idealismo contrasta com sua fragilidade em lidar com questões difíceis diante dos tribunais. Não à toa, tornou-se o cérebro de um escritório de advocacia, atuando sempre nos bastidores – o que lhe rendeu uma vida tranquila, mas sem sucesso e riqueza.
Porém, a morte de seu sócio, o advogado que levava suas brilhantes ideias ao tribunal, coloca-o ao sol – e obriga-o a lidar com suas próprias sombras. Se na época da faculdade Roman era líder militante, agora seu discurso não está nada afinado com os jovens ativistas. Se, ao lado do sócio, ele via-se dono de um talento único, agora ele passa a desconfiar de sua capacidade, já que não consegue driblar as burocracias do sistema jurídico.
E é nesta burocracia que se afia o lado mais negro do protagonista: diante da impossibilidade de ser militante e de se sair bem nos tribunais, ele se vale de uma informação confidencial (um de seus clientes contou onde estava o assassino de um rapaz) para ficar ganhar dinheiro (o tio desse rapaz oferecia recompensa para quem encontrasse o assassino). Para o plano dar certo, visto que tal ato é ilegal, ele se passou por anônimo, porém ele passa a ser caçado pelo criminoso.
Assim, o filme poderia escambar para uma narrativa de suspense e perseguição, mas se mantém o foco na personalidade de Roman. E este é o acerto do diretor e roteirista Dan Gilroy, que também criou o sombrio “O Abutre”. Confuso e encurralado, o protagonista passar a agir de forma estranha, falando palavras incompreensíveis e vivendo sempre tenso. O final marca o momento em que ele se reconcilia com ele mesmo.
Mas o filme não é feito só de acertos. Os personagens que vivem ao redor de Roman não foram desenvolvidos, faltando complexidade ao longo da narrativa: tirando o assassino encarcerado, todos querem que ele fique bem e dão chances ao tímido advogado. Nesse patamar encontra-se seu chefe (Colin Farrell), que poderia oprimi-lo diante da burocracia jurídica, mas resolve promovê-lo e oferecer a chefia de uma sessão pro-bono. Do mesmo modo, a jovem idealista Maya (Carmen Ejogo) o admira e está sempre disposta a ouvir seus pensamentos pouco articulados e confusos – ao invés de avaliá-lo como antiquado ou ao menos questionar a figura que ele era no passado com a atual.
Não obstante, Roman elabora um magistral processo que vai promover uma reforma social no sistema jurídico dos EUA – ao menos, isso é o que ele afirma. Pode ter a ver com a questão racial, ou com a questão imobiliária (visto que ele denunciava dia após dia os barulhos de uma obra ao lado de seu apartamento, feita em horários inadequados), mas o espectador nunca saberá, pois o filme não apresenta sua ideia. Poderia ser apenas mais uma tentativa falha ou um gesto desesperado. Quem sabe?
OBS: o Esq. no título significa Esquire, uma titulação do direito pouco usual. Nada mais.
Pôster:
Ficha Técnica:
Ano: 2018
Duração: 130 min
Gênero: drama
Direção: Dan Gilroy
Elenco: Denzel Washington, Colin Farrell, Carmen Ejogo
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