Por Luciana Ramos

 

O tom autoral e profundamente criativo com que Cary Joji Fukunaga filmou a primeira temporada de “True Detective” e o filme original da Netflix “Beasts of no Nation” chamou a atenção da indústria para o seu potencial como realizador. Por isso, a notícia de que ele ia adaptar o livro “O Alienista”, de Caleb Carr, no formato de minissérie causou entusiasmo. Porém, o resultado foi bem aquém do esperado: trabalhando com temas e personagens interessantes, a produção perde-se no marasmo de suas ideias pouco desenvolvidas.

O propósito da obra literária era trazer debates atuais para o cenário vitoriano, costurando-os com uma investigação criminal, centrada na figura do “alienista”, um psicólogo especializado em patologias mentais. Ele é convocado pelo recém-empossado comissário da polícia Theodore Roosevelt (Brian Geraghty), para investigar uma série de assassinatos, todos cometidos contra meninos que trabalham como prostitutos nas ruas de Nova York. O convite possui o apelo de quem reconhece uma peculiaridade nos crimes e, ao mesmo tempo, se vê de mãos atadas pela corrupção da instituição.

 

Para lhe ajudar, o doutor Lazslo Kreizler (Daniel Brühl) chama o amigo John Moore (Luke Evans), a assistente Sarah Howard (Dakota Fanning) e os irmãos legistas Marcus (Douglas Smith) e Lucius Isaacson (Matthew Shear). Ao contrário da polícia, que cumpre apenas a ordem de prisão (por vezes, dado a interesses profusos, nem isso), o variado grupo se propõe a debater cada uma das ações do serial killer, oferecendo-lhe uma dose de humanidade na medida em que se propõe a compreender suas motivações.

O debate acerca do caráter ritualístico dos ataques, que decorre na tentativa de prever as próximas vítimas torna a obra intrigante, algo acentuado pela disposição do ex-prefeito (Peter McRobbie) e seu capacho, o capitão Connor (David Wilmot), em abafar o caso. Esse duelo narrativo transforma os primeiros episódios em um jogo de gato e rato, onde o espectador parece possuir mais informações do que os personagens. Porém, por volta do quinto episódio, a trama opta por um caminho mais formalista (e menos interessante), dedicando-se a repetição de sequências de debates teóricos. A monotonia decorrente não é suprimida pela iminência dos assassinatos, pois esses eventos nunca são explorados no nível de tensão desejado.

Não obstante, a série oscila no tratamento dos temas a que se propõem: os meninos vestidos em roupas femininas são marginalizados e incompreendidos, pela sociedade e pelas famílias. A devoção do Dr. Kreizler e o modo como a trama é primordialmente montada dão a entender que eles serão devidamente analisados e, logo, compreendidos. No entanto, sem maior delineamento, eles são relegados ao papel acessório, servindo apenas para impulsionar o suspense.

 

 

Do mesmo mal sofrem, em maior ou menor escala, os demais personagens: a empregada Mary (Q’orianka Kilcher), muda e estranha, permanece inexplorada, servindo também como muleta narrativa; a subtrama envolvendo Marcus e uma garota comunista não leva a lugar nenhum e a própria debilidade de Lazslo, posta para lhe conceder maior profundidade, não convence.

Em oposição, há a exploração da conduta feminista através do olhar de Sarah que, sem a proteção masculina do pai, se recusa a curvar diante da vontade dos homens e constrói o seu próprio caminho. Infelizmente, a força da personagem perde-se um pouco com a atuação engessada de Dakota Fanning, que parece ter perdido a naturalidade e carisma que pautavam seus trabalhos enquanto criança.

Propondo uma abordagem moderna em uma trama de época, “The Alienist” prometia diferenciar-se positivamente de outras séries criminais. Visualmente, ela mostrou-se impecável: a Nova York de 1896 foi reproduzida em grande escala, em becos, avenidas estreitas e casarões, esmero também traduzido nos figurinos vitorianos. Porém, o apelo estético não foi acompanhado pela narrativa: perdido em discussões teóricas, sem aprofundar-se nos temas de fato relevantes, a experiência de assistir aos 10 episódios mostrou-se bastante enfadonha. Ao chegar no clímax, o espectador se vê destituído de curiosidade, reflexo da mediocridade do material.

 

 

Pôster

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Ficha Técnica

Ano: 2018

Número de Episódios: 10

Nacionalidade: EUA

Gênero: drama, mistério

Criador: Cary Joji Fukunaga

Elenco: Daniel Brühl, Dakota Fanning, Luke Evans, Brian Geragthy, Douglas Smith, Matthew Shear

 

 

Trailer:

 

 

 

Imagens:

Avaliação do Filme

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