A crise não é nova. Na verdade, já dura mais de dez anos, com índices cada vez mais baixos de comparecimento às salas de cinema. Deve-se levar em consideração à gama de opções que os cinéfilos têm em mãos: o streaming de fato mudou o modo de se consumir entretenimento, oferecendo ao espectador a decisão de quando assistir o filme desejado.

 

A resposta dos grandes estúdios, por sua vez, foi o afunilamento das produções, concentrando os investimentos em uma menor quantidade de obras de caráter suntuoso…o que nem sempre funciona, dada a escolha pelo apelo visual em detrimento de uma construção narrativa sólida. Notou-se, assim, uma supressão dos filmes de médio porte, aquelas produções típicas de gêneros como comédia romântica ou ações policiais. Como exemplo desse movimento, há o resultado da Disney no ano passado: com apenas 13 filmes lançados, arrecadou 7 bilhões de dólares.

O período do verão americano contou com apenas 208 lançamentos, em contraponto à média anterior de 250. No entanto, a bilheteria desse período (da primeira sexta-feira de maio ao feriado do labor day, no meio de setembro) foi a menor desde 1992, quando “Batman: O Retorno” dominou as bilheterias.  De fato, somente 2,3% dos americanos compareceram nos cinemas durante todo o período. “ A Múmia”, primeiro lançamento do Universo de  Monstros da Universal, e “Baywatch”, adaptação da série homônima sucesso dos anos 90, tiveram resultados aquém do esperado, assim como as sequências de “Alien”, “Carros” e “Piratas do Caribe”.

Mas por que se importar tanto com a frequência de público no período do verão? Porque, historicamente, esta representa 40% dos ingressos de todo o ano, e vem caindo a uma média anual de 15%. O péssimo desempenho funciona como o gatilho de um círculo vicioso, onde mais produtos genéricos são fabricados – somente em 2017, serão 40 remakes, reboots ou sequências – e menos oportunidade para riscos criativos surgem.

Felizmente, alguns filmes desse ano desafiaram por completo essa lógica reducionista, lançaram luz sobre o problemático esgotamento narrativo e elucidaram que a resposta pode estar no novo, no original ou, até mesmo, nos saudosos filmes de gênero.Foi o caso de “Em Ritmo de Fuga”, de Edgar Wright, que pode ser descrito como um longa de roubos musical. Tecnicamente bem executado, com uma montagem completamente consonante à trilha sonora cool, o longa de história simples mostrou-se extremamente cativante, tendo arrecadado mais de 220 milhões de dólares ao redor do mundo.

Em Ritmo de Fuga

Em Ritmo de Fuga

No entanto, os melhores desempenhos do verão vieram de um gênero que oscila em termos de bilheterias, o terror. Os resultados apontam um misto da familiaridade nostálgica trabalhada pelos estúdios com a roupagem moderna dos cineastas que tentam oferecer novas experiências ao púbico. O primeiro caso de sucesso foi “Fragmentado”, que trouxe M. Night Shymalan de volta aos holofotes depois do sucesso moderado de “A Visita”. Explorando um subgênero muito em voga das produções atuais, resgatou uma antiga obra sua e deu nova vida e significado a ela. Em troca, obteve retorno de pouco mais de 276 milhões de dólares em um filme que custou somente 9 mi.

 

Apesar do desempenho tímido no Brasil, “Corra!” fez um estrondoso sucesso nos Estados Unidos: ganhou pouco mais de 175 mi nacionalmente e 252 mi ao redor do mundo até o momento, tendo custado apenas 4,5 mi. Primeiro longa do comediante Jordan Peele, aborda o racismo sob a ótica do terror fantasioso, mesclado com a comédia do absurdo, o que lhe rendeu não só boa aceitação do público como da crítica, que já o aponta como possível candidato ao Oscar. Por último, houve o sucesso estrondoso de “It: A Coisa”, que capturou 123 mi de dólares no final de semana de estreia e já se tornou a maior abertura de um filme no mês de setembro e o maior filme de  terror da história, ultrapassando “O Exorcista”.

Dos três longas, apenas “Corra!” soa totalmente novo, mas mesmo a nostalgia trabalhada nas outras duas produções possui o frescor de ter sido adequada aos anseios presentes, ao sentimento nostálgico que ronda o cinema, sem espremê-lo em demasia – e, assim, secando a sua narrativa – como as produções anteriormente citadas (“Piratas do Caribe”, por exemplo).

O público precisa cada vez mais de estímulos para se deslocar até uma sala escura e apreciar uma obra cinematográfica. Estes têm que vir dos aspectos técnicos da obra, da sua capacidade de envolvimento emocional ao longo das duas horas de projeção e, acima de tudo, da sua capacidade de oferecer algo que não soe uma recriação genérica de um produto do passado. O péssimo desempenho do verão americano, aliado aos bons resultados de filmes de gênero e mais originais, mostram um caminho a ser percorrido, o da originalidade, para que o espectador sinta a vontade irresistível de passar seu dia no ambiente escuro do cinema – tendo um bom entretenimento como companhia.

 

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