Por Marina Lordelo

Centrado na história de um rapaz francês que resolve abandonar a sua vida aparentemente sem propósito para entregar-se ao exército árabe turco, “Adeus à Noite” é dirigido por André Téchiné e protagonizado por Kacey Mottet Klein na pele do jovem muçulmano Alex e Catherine Deneuve, que interpreta sua avó. Interessado em uma temática amplamente polêmica e etnocentrada, o recrutamento de terroristas árabes, o filme elabora uma narrativa frágil, mas que comunica didaticamente a mensagem a que se propõe.

Neste sentido, há alguns problemas na construção de Alex – pouco se sabe sobre ele e o roteiro custa a entregar suas motivações. Ainda que não seja absolutamente necessária uma construção prévia dos personagens, anterior à diegese da história, o diretor parece pouco corajoso em se debruçar sobre o passado do garoto – ou mesmo o seu presente. Diante dos muitos silêncios e diálogos incompletos com a parceira Lula (Oulaya Amamra), cabe ao espectador juntar as mínimas peças para elaborar a sua opinião acerca das suas escolhas.

E então há Catherine Deneuve no papel da avó Muriel, fundamental para a condução (e recondução) do roteiro. Deneuve – sempre com uma atuação contida, porém potente – é capaz de apresentar uma angústia madura na tela. É nela que está representada a empatia, tensão e a preocupação que emana do espectador. É através da sua experiência que o desconhecido ganha forma para construir a narrativa. Porém, ela age a partir de um passado compartilhado que é absolutamente recalcado aos espectadores, o que dilui a conexão emocional que justifica suas decisões.

Em termos técnicos há um desacordo entre a direção de arte colorida e com cerejeiras primaveris de Carlos Conti (de “Diários de Motocicleta”) e o tensionamento narrativo da história, da mesma forma que a câmera solta do fotógrafo Julien Hirsch entra em enfrentamentos com uma decupagem cheia de planos de Téchiné e a montagem resolve atender mais ao diretor do que ao fotógrafo. O acompanhamento mais livre das ações com uma câmera móvel e fluida parece não ser autônoma o suficiente como demanda a sua técnica.

E assim o diretor fragiliza sua narrativa a partir de uma diversidade de premissas. Talvez seja uma visão sul-americana menos sensível ao tema recorrente do terrorismo árabe/europeu, mas a delicada premissa do recrutamento de terroristas é tratada apenas com o didatismo necessário para o efeito da mensagem que o filme necessita construir. Há uma entrega (nem sempre genuína) dos jovens criados por Téchiné, mas há também a resistência e a difícil decisão de Muriel, ética e coerente com o que se espera de um cidadão.

Ficha Técnica

Ano: 2019

Duração: 104 min

Gênero: Drama

Diretor: André Téchiné

Elenco: Catherine Deneuve, Kacey Mottet Klein, Oulaya Amamra

Trailer:

Imagens:

Avaliação do Filme

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