Por Murillo Trevisan
As seitas religiosas se fazem bastante presentes na sétima arte, mostrando os perigos e consequências de se misturar o poder com religião em meio uma sociedade com pouquíssimo pensamento crítico. Embora uma temática real e atual, “Apóstolo” é um drama totalmente ficcional passado no ano de 1905, que se aproveita do assunto para contar uma história sobre resgate e redenção.
Dan Stevens, conhecido por interpretar o primo Matthew Crawley em “Downtown Abbey” e que fez a Fera na versão live-action de “A Bela e a Fera” da Disney, estrela essa aterrorizante história. Com seu habitual caráter misterioso, ele dá vida a Thomas Richardson, um homem que ao voltar para a sua casa, descobre que a irmã foi sequestrada por uma seita religiosa isolada em uma ilha. Determinado a recuperá-la, viaja até o local e se infiltra na comunidade, liderada por um alienado profeta.
Malcolm, interpretado brilhantemente pelo astro britânico Michael Sheen (“Frost/Nixon”) – que diga-se de passagem, é um dos melhores da atualidade – assume o papel de líder da seita, rebelando-se contra a sociedade moderna que, na sua visão, é corrupta – ao mesmo tempo, ele mesmo se corrompe, quando opta pelo sequestro Jennifer (Elen Rhys), pensando em obter recursos para seu povo através do valor do resgate.
A princípio acompanhamos a jornada pelo olhos de Thomas, que recém chegado à ilha recebe tudo com bastante estranheza, uma vez que os costumes locais contrastam com a modernidade da Londres em que vivia. A medida em que ele vai se infiltrando e, digamos que, entendendo melhor o local, vamos nos desprendendo de um único núcleo e fragmentando em diversos outros personagens. Dois deles são Ffion (Kristine Froseth) e Jeremy (Bill Milner), um casal que vive um romance às escondidas, pois o conservadorismo extremo dessa sociedade não lhes permite ficar juntos. Outra personagem de suma importância é Andrea (Lucy Boynton), filha do profeta Malcolm, que com um senso crítico mais apurado desconfia das mentiras pregadas pelo pai e dispõe-se a ajudar o elo mais fraco.
Na primeira metade do filme, o clima é predominantemente de suspense, evidenciado por uma trilha sonora estridente juntamente com uma fotografia propositalmente desarmoniosa, que por meio de ângulos extravagantes causam incômodo. À medida que descobrimos junto com o protagonista quais são as verdadeiras intenções dessa comunidade isolada e quais são seus métodos de pregação, ele vai se transformando num terror gore, substituindo o mistério por um método mais explícito de impactar o espectador.
O filme carrega a assinatura violenta do diretor Gareth Evans, que construiu sua fama através dos dois excelentes longas de ação “Operação Invasão” 1 (2011) e 2 (2014). Não há limites para mostrar um membro decepado ou as cenas de torturas à moda antiga a que são submetidos os contraditórios dessa seita, reforçando a narrativa, que mostra o quanto a religião pode ser hipócrita em suas atitudes. Algumas dessas imagens são realmente fortes, justificando a classificação etária e, não recomendada para pessoas com o estômago sensível.
Apesar das surpresas e plots no método da narrativa, a trama não é das mais interessantes e, não fosse pela escolha gráfica de se contar essa história, mérito da excelente equipe técnica e artística da obra, “Apóstolo” seria mais um dos esquecíveis da Netflix.
Pôster
Ficha Técnica
Ano: 2018
Duração: 130 min
Gênero: fantasia, horror, mistério
Direção: Gareth Evans
Elenco: Dan Stevens, Bill Milner, Michael Sheen, Lucy Boynton, Kristine Froseth
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