Por Paulo Lannes

 

Os traços de genialidade encontrado nas obras de arte de Pablo Picasso podem ser identificados em sua biografia. Ao menos, é isso que a segunda temporada de “Genius” tem interesse em provar. A série antológica da National Geographic – devotada a analisar as características de pessoas que tiveram um desempenho excepcional em alguma área – traça, ao longo de dez episódios, uma narrativa coerente e bem roteirizada, que traz detalhes interessantes até mesmo ao profundo conhecedor de arte e que busca novos desdobramentos a cada capítulo.

Picasso parece ser um papel idealizado para Antonio Banderas. O pintor não era exatamente um galã, mas tinha um charme que parecia se renovar a cada década, traço este também característico ao ator (que assumiu o papel do artista na sua fase adulta e idosa). Não à toa, Banderas está concorrendo ao prêmio de melhor atuação no Emmy 2018 (e tem grande chances de levar o troféu).

 

 

A história é contada em duas momentos da vida do pintor. Uma delas é a partir da criação do gigantesco quadro “Guernica”, pintado em 1937 no auge da Guerra Civil da Espanha e pouco antes da II Guerra Mundial. Ao mesmo tempo que a cronologia segue em frente, o espectador se vê diante de flashbacks que remontam a infância e a juventude do artista – até que nos últimos episódios as linhas do tempo se encontram e seguem até a sua morte, em 1973. Este método se tornou bastante interessante por permitir um espelhamento dos atos de Picasso a partir de sua própria vida, como que quisesse provar que sua genialidade não veio do acaso, mas sim de uma construção pessoal que demorou anos (ou décadas) para ter resultado.

 

Os seus desejos e os temores também são apresentados sob esta ótica e ganham profundidade, escapando do caricaturismo. É o que pode ser percebido, por exemplo, no tratamento de Picasso às mulheres de sua vida. Enquanto aparece o pintor destratando a fotógrafa Dora Maar diante da pintora Françoise Gilot – ambas suas amantes – conhecemos também ele enquanto um homem apaixonado ingenuamente por Fernande Olivier e enquanto um viúvo devastado por Eva Gouel, que morreu aos 30 anos graças à tuberculose e ao câncer.

 

 

Vale ressaltar que a série não se detém à biografia da sua vida íntima. Estão presentes também os momentos em que idealizou e pintou quadros – como “Ciência e Caridade” (1897), “Les demoiselles D’Avignon” (1907) e “O Sonho” (1932) – e os contatos que tinha com outros grandes artistas que conviveram com ele – é o caso do escritor Apollinaire, do poeta Max Jacob, do pintor Henri Matisse e da colecionadora de arte Gertrude Stein.

Ao final, “Genius: Picasso” revela ser uma produção que passeia pela biografia, pelo documentário e pela ficção com facilidade, mantendo o interesse do espectador alto até os últimos episódios (seja ele um grande entendedor de arte ou um leigo no assunto). E, de quebra, é possível verificar como pode ser custoso reconhecer sua própria genialidade e colocá-la à frente de tudo e de todos ao longo de sua vida.

 

Pôster

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Ficha Técnica

 

Ano: 2017 – (em andamento)

Número de Episódios: 10 (por temporada)

Nacionalidade: EUA

Gênero: drama, biografia

Criador: Kenneth Biller, Noah Pink

Elenco: Antonio Banderas, Alex Rich, Clémency Poésy, Samantha Colley, Poppy Dellevingne

 

Trailer:

 

 

Imagens:

Avaliação do Filme

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