Por Paulo Lannes

 

Baseada na série literária homômina de Edward St. Aubyn, “Patrick Melrose” marca um dos trabalhos mais bem realizados do ator Benedict Cumberbatch. Ele encarna o personagem principal, trazendo à tona todas as incoerências existentes em um ricaço que não sabe fazer nada da vida (nem quer) e que assiste a decadência do mundo a sua volta enquanto tenta se recuperar dos seus vícios e traumas.

Além da primorosa atuação, que pode fazer com que Cumberbatch leve o prêmio de melhor ator no Emmys 2018, a minissérie de cinco episódios conta com um roteiro (David Nicholls, de “The Governor”) e uma direção (Edward Berger, do filme “Jack”) que não permitem a narrativa afundar em pieguice e em, como se diz por aí, “white and rich people problems” – expressão voltada para o desgosto de ter que conferir aquela mesma história de gente branca e rica que sofre por sua condição privilegiada.

 

 

Pois, o que a série revela é uma aristocracia tradicional (ao mesmo tempo atualíssima) que segue em decadência com seus princípios infundados e muitas vezes marcados pela hipocrisia, enquanto os jovens deste meio não são ensinados a lidar com as inevitáveis frustrações. É como um tiro no pé. Patrick não aprende qualquer ofício específico, mas não pode ficar de mãos abanando. Socialmente, ele esforça-se para esconder o ódio que sente pelo seu violento e assustador pai, papel do magistral Hugo Weaving (da trilogia “Matrix”), pois este é amado por todos a sua volta.

Ademais, não entende o amor que sente por sua mãe, visto que ela o deixou de lado em momentos cruciais de sua vida – preferindo a bebida e o lazer no luxo do que cuidar de seu único filho. Por fim, percebe que reproduz com seus filhos muito da maldade que sofreu  na própria infância. E não consegue encontrar, de jeito nenhum, uma forma de se livrar dessa espiral.

 

 

Apesar de não ser tão original, o enredo se surpreende pelo profundo pessimismo. Ao invés de tentar superar seus problemas, o protagonista encontra novas formas de se afundar (abusando das drogas, afastando pessoas que poderiam ajudá-lo, traindo sua esposa, descuidando de seus filhos), caindo em um círculo vicioso maldito – o que serviu de laboratório para Benedict, que pôde se aprofundar nas questões humanas do seu personagem a partir de suas imensas contradições, trabalho este que funcionou muito bem na série.

Daí, o final da série provoca um sentimento contraditório. Livrando-se da narrativa-padrão, talvez teria sido melhor se a narrativa tivesse marcado de forma incisiva a impossibilidade daquele universo – tão esplendoroso e, ao mesmo tempo, tão nocivo às pessoas – continuar existindo. Porém, como se baseia em livros autobiográficos, o roteiro opta por trabalhar com uma réstia de esperança, abrindo campo para especulações sobre o destino dos personagens. Contudo, mesmo optando por uma solução mais formalista – e hollywoodiana – da questão, “Patrick Melrose” vale pena jornada, encarnada de maneira visceral por Cumberbatch.

 

Pôster:

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Ficha Técnica

 

Ano: 2018

Número de episódios: 5

Nacionalidade: EUA, Reino Unido

Gênero: drama

Criador: Edward Berger

Elenco: Benedict Cumberbatch, Hugo Weaving, Jennifer Jason Leigh, Allison Williams, Anna Madeley, Holliday Grainger, Blythe Danner

 

Trailer:

 

 

Imagens:

Avaliação do Filme

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